Combatentes curdos foram mobilizados nesta segunda-feira (24) para realizar um ataque a uma prisão em Hassake, na Síria, alvo de jihadistas, uma operação que levanta sérias preocupações para as centenas de menores ainda detidos na instalação.

Em 20 de janeiro, mais de cem jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) atacaram a prisão de Ghwayran com caminhões-bomba e armas pesadas. Durante vários dias ocorreram confrontos violentos ao redor e dentro desta prisão no nordeste da Síria.

De acordo com um novo balanço do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), 154 pessoas foram mortas em cinco dias de combates entre forças curdas e jihadistas – 102 jihadistas, 45 combatentes curdos e sete civis.

Esses combates forçaram quase 45.000 pessoas que vivem em Hassake a fugir, informou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

As Forças Democráticas Sírias (SDF), dominadas por curdos e membros da coalizão liderada pelos Estados Unidos, que lutaram contra o EI, consolidaram suas posições perto da prisão na segunda-feira, para realizar uma ofensiva, segundo o OSDH.

Mas não avançam devido à presença de menores na prisão, feitos como “reféns” e usados como “escudos humanos” pelos jihadistas, segundo um comunicado das SDF. Anteriormente detidos em um “centro de reabilitação”, esses menores agora estão trancados em um quarto, disseram eles.

– “Cadáveres por toda parte” –

A agência infantil da ONU, Unicef, pediu a proteção dos quase 850 menores detidos, alertando que eles podem ser “feridos ou recrutados à força” pelo EI.

Para Sara Kayyali, pesquisadora da Human Rights Watch (HRW), essas “crianças estão presas” na penitenciária, a maioria com idade entre 12 e 18 anos.

Kayyali afirma ter recebido uma mensagem de voz de um menor ferido em Ghwayran, onde “há cadáveres por toda parte”.

A ONG Save the Children, que também recebeu uma mensagem de um menor que pedia ajuda, pediu para evacuarem imediatamente as crianças do centro.

A prisão de Ghwayran – uma antiga escola transformada em prisão três anos atrás após a derrota do EI – já estava superlotada antes do ataque, com pelo menos 3.500 jihadistas entre os detidos, segundo o OSDH.

– Toque de recolher –

Principal apoio das tropas curdas em suas ofensivas contra o EI, as forças da coalizão sediadas na região se posicionaram em massa em Hassake.

Helicópteros da coalizão sobrevoam a área onde está localizada a prisão, segundo um correspondente da AFP no local. No terreno, os combatentes curdos multiplicam os seus esforços para encontrar fugitivos.

Na segunda-feira, após um ataque das forças curdas, vários jihadistas se renderam às FDS, disse seu porta-voz Farhad Shami.

As autoridades curdas decretaram “um toque de recolher completo em Hassake e seus arredores por sete diasm a partir de 24 de janeiro”, para “impedir que membros de células terroristas escapem”.

As lojas, exceto as essenciais, têm que fechar. Os civis que moram perto da prisão não sabem para onde fugir, em um período também com temperaturas glaciais.

Hamsha Sweidan, de 80 anos, disse à AFP que eles estavam presos nos combates sem comida ou água.

“Estávamos morrendo de fome e sede”, mas “agora não sabemos para onde ir”.

Os curdos, que controlam regiões no norte e nordeste da Síria, exigem há anos a repatriação de cerca de 12 mil jihadistas de mais de 50 nacionalidades, detidos em suas prisões.