Em uma clara tentativa do mercado em digerir a decisão do Copom de manter a Selic em 6,5% ao ano, a Bolsa e o dólar reagiram com nervosismo nesta quinta-feira, 17. O índice com as principais ações da B3, o Ibovespa, terminou aos 83.621,94 pontos, em queda de 3,37%.

Segundo operadores, uma série de fatores explica a queda da Bolsa, incluindo uma realização de lucros com ações que vinham acumulando ganhos expressivos em maio, como é o caso da petroleira. No caso dos bancos, a liquidez elevada dos papéis facilita a saída de investidores estrangeiros, mesmo que esses papéis contabilizem quedas no curto prazo.

Os ruídos de comunicação do Banco Central também são apontados para justificar o sinal de baixa, assim como a alta do dólar, um dia depois de o BC ter optado por manter a taxa Selic inalterada. A moeda americana fechou em alta de 0,65%, cotada a R$ 3,6994.

A queda das ações da Petrobrás ocorre por um movimento de realização de lucros por parte dos investidores, de acordo com o analista da Planner Corretora, Luiz Francisco Caetano. “Até ontem, as ações tinham subido até 70% do ano. A queda de 5% se explica com uma realização após um processo tão forte e tão rápido essa alta em 4 meses e meio de ano”, explica o analista. Ele acredita que fatores como a discussão sobre a cessão onerosa ou o preço do petróleo não tiveram influência no desempenho neste pregão.

Os bancos brasileiros pesaram também sobre o Ibovespa. O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, atribui o movimento ao desmonte de posição por parte de fundos estrangeiros não só no Brasil, mas em diversos mercados emergentes. Ele ressalta que a manutenção da Selic teve impacto em todo o mercado, e os bancos também refletem esses ajustes.

Ações de empresas de setores que dependem mais do crédito, do crescimento do consumo e do custo da captação também estão entre os destaques negativos do Ibovespa. Registraram perdas ainda aquelas companhias com dívidas em dólar, que subiu ante o real.

“Parte relevante do mercado financeiro vinha trabalhando com a perspectiva de corte de 0,25 ponto na reunião de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom). Hoje é dia de correção”, explica Carlos Soares, analista da Magliano.

Forte queda também para as voláteis Kroton e Estácio. Um gestor que acompanha de perto o setor educacional opinou que, por serem expostas ao cenário macroeconômico e considerando as dificuldades do programa de financiamento estudantil Fies, esses papéis seguirão voláteis até que haja um cenário eleitoral mais claro.

No setor imobiliário, as ações da Cyrela, Even e EzTec começaram o pregão com ganhos, inclusive Cyrela chegou a apresentar a maior variação positiva do Ibovespa, em razão da derrubada da liminar que vetou o direito de protocolo na capital paulista, em julgamento do Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). No entanto, os papéis inverteram direção, acompanhando a reavaliação de cenários na bolsa de valores.