O psicólogo espanhol Marc Masip, uma das referências em estudos sobre como a tecnologia altera nossos padrões mentais, acredita que não existem muitas diferenças entre a abstinência causada pela falta de drogas e a gerada pela falta de internet.

Em entrevista à BBC, Masip afirmou que “o celular é a heroína do século 21”. E ele fala com propriedade no assunto porque parte de seu trabalho consiste em ajudar pessoas que se internam em clínicas de desintoxicação da tecnologia.

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Ele explica que é mais difícil recuperar viciados em tecnologia exatamente porque no mundo das drogas existe a compreensão de que elas fazem mal, enquanto no mundo tecnológico as pessoas extrapolam sem compreender o tamanho do dano que elas nos causam.

Quando o WhatsApp, Facebook e Instagram ficaram fora do ar no último dia 8 de outubro, o psicólogo foi ao Twitter desejar uma “feliz síndrome de abstinência”. E eles explica a motivação por trás disso.

“As pessoas enlouqueceram quando na realidade nada estava acontecendo. Estamos todos um pouco perdidos. Os vícios são todos vícios, e não há muita diferença entre o vício em drogas e o vício em telefone celular”, disse ele.

Em sua visão, quando não temos tecnologia nas mãos, como quando o WhatsApp e o Facebook caíram, todos “sentimos um mal-estar, uma síndrome de abstinência”.

“Quando a heroína começou a ser consumida, não se sabia o quão ruim era, e no final morreu muita gente. Espero que não seja assim agora, mas tem gente que morre porque usa o celular até quando está dirigindo”, lembra ele à BBC.

E como uma pessoa é desintoxicada da tecnologia?

“Se você pensar bem, quando você lida com o vício em heroína, cocaína ou maconha, parte do pressuposto que é socialmente mal visto. As pessoas presumem que fumar, beber e se drogar faz mal. Com as tecnologias é mais difícil porque não se trata de deixar de usá-las. O que você tem que fazer é reeducar para que sejam melhor utilizadas. E não é nada fácil quando todo mundo ao seu redor também está usando. No nosso tratamento, é muito importante que o paciente supere essa fase de conscientização, em que reconhece até que ponto é bom usar uma tecnologia”, avaliou.