Bipolaridade, crises de ansiedade, depressão… Depois de décadas de silêncio a respeito, os astros e estrelas de Hollywood não hesitam mais em falar sobre os males que sofrem, na esperança de quebrar o enorme tabu em torno dos distúrbios mentais, que afetam uma em cada quatro pessoas.

Na cerimônia do Grammy no domingo à noite, Lady Gaga disse que estava “orgulhosa por fazer parte de um filme (“Nasce uma Estrela”) que trata de problemas de saúde mental”, com um herói sofrendo de vícios e pensamentos suicidas.

Muito comprometida com essas questões, a estrela pop revelou há dois anos que sofria de estresse pós-traumático.

Mas seu caso não é único: o comediante Pete Davidson, do Saturday Night Live, revelou sua depressão para a preocupação de seus fãs, enquanto Mariah Carey falou de sua bipolaridade pela primeira vez no ano passado.

“Eu não queria me deixar levar pelo estigma de uma doença crônica que me definiria e acabaria com a minha carreira”, declarou a cantora à revista People.

“Eu estava com medo de perder tudo”, disse ela, sobre a doença que atinge 60 milhões de pessoas e que é considerada a sexta mais incapacitante, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. (OMS). Ela também confidenciou estar sob tratamento médico e de psicoterapia.

Um avanço considerável para o psiquiatra Jean-Victor Blanc, observador das relações entre cultura pop e psiquiatria, assunto de suas conferências e, em breve, de um livro.

“Os distúrbios psíquicos são tão estigmatizados que é bom ter exemplos positivos”, ressalta o médico de 31 anos que trabalha no hospital Saint-Antoine, em Paris. O exemplo de Mariah Carey é “inspirador para meus pacientes”, porque depois que ela se pronunciou, retornou às suas atividades normais como artista.

Também corresponde às “recomendações atuais” em termos de tratamento, enquanto os filmes às vezes pintam quadros muito distantes da realidade médica, com pacientes que são capazes de lidar com a doença graças a um encontro romântico ou religião, disse ele.

– Bipolaridade nas manchetes –

Esses discursos ajudam a reduzir o estigma, mas nem sempre estão na nuance (como o álbum de Kanye West, com “eu odeio ser bipolar, é ótimo”, escrito na capa) e beneficia alguns distúrbios mais do que outros.

A bipolaridade tornou-se lugar-comum na ficção (a série “Homeland” ou o filme “O Lado Bom da Vida”, que rendeu a Jennifer Lawrence um Oscar em 2013) e é um pouco mais conhecida do público em geral. Ao contrário da esquizofrenia (que afeta 23 milhões de pessoas), mas permanece extremamente estigmatizada.

Mesmo que os artistas falem de seus males, o trabalho continua considerável. Talvez porque tais doenças são vistas como parte da vida de artista.

“Dar uma imagem glamourosa para algumas doenças não é algo novo, mas ainda é um problema”, diz Philip Auslander, professor de comunicação no Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA), lamentando a imagem romântica do artista auto-destrutivo.

“A ideia de que a criatividade se paga a um alto preço em um nível pessoal é algo que é implicitamente aceito, mas muito prejudicial”, aponta.

Para provocar maior efeito, publicitários lançaram uma campanha no início de janeiro no Instagram, visando destronar o recorde de “likes” detido por Kylie Jenner com a foto de um ovo (Eugene Egg). Um recorde batido em poucos dias.

Outras fotos, em seguida, apareceram com a casca do ovo se rachando e um link para dezenas de organizações que trabalham pela saúde mental em todo o mundo.

“Por causa de um ovo”, 5.000 pessoas visitaram em um único dia o site da Mental Health America (MHA)”, comemorou Paul Gionfriddo, chefe da associação.

Entre eles, um público relativamente jovem, um terço de homens e 63% de pessoas que nunca foram diagnosticadas.

“Podemos tirar sarro desse ovo, mas a verdade é que é importante porque nos permitiu alcançar uma população que precisa e abrir o debate em escala global”, ressaltou a MHA.