No início de 2006, a direção da mineira Cedro Cachoeira tomou uma decisão ousada: trocar a TexWorld, feira parisiense que reúne os principais fabricantes de tecidos do mundo, pela Première Vision ? evento de menor porte, mas de grande prestígio junto aos estilistas das marcas top e que acontece também na capital francesa. Uma aposta, sem dúvida, arriscada porque, a princípio, poderia restringir o raio de ação da tecelagem mineira em nível global. Menos de dois anos depois, ela começa a colher os primeiros frutos dessa estratégia. Na semana passada, a Cedro Cachoeira fechou contrato de fornecimento de tecidos premium (com acabamento diferenciado) para grifes de destaque no cenário mundial. A lista inclui as espanholas Zara e Mango (cuja designer é a atriz Milla Jovovich) e a italiana Fornarina (conhecida pelos jeans carésimos). E não é só. A empresa está negociando a ampliação da parceria com a matriz da americana Levi’s, para quem já vende a matéria- prima das peças comercializadas no Brasil. ?Entramos no primeiro time?, festeja Klecius Janduci, gerente de exportação da Cedro Cachoeira.

Antes de ser aceita nesse ?clube?, a companhia foi submetida a um verdadeiro ?pente-fino?. ?Os organizadores da Première Vision avaliaram a qualidade dos produtos, a política de preços e até nossa capacidade de inovação?, conta. ?Passamos em todos os quesitos?, completa.

Apesar de as exportações representarem uma fatia de apenas 15% do faturamento anual de R$ 370 milhões, essas operações são importantes porque permitem que ela receba uma remuneração diferenciada. ?Os tecidos premium têm preços, em média, 50% maiores que os convencionais?, destaca Janduci. Com isso, é possível minimizar, e até evitar, o impacto de fatores como a defasagem cambial. Sem contar que tira a Cedro Cachoeira do bloco no qual estão os competidores chineses e vietnamitas que atuam majoritariamente com insumos básicos. ?Nosso volume de vendas externas neste ano será idêntico ao de 2006, mas o faturamento deverá crescer 22%?, prevê Fábio Mascarenhas Alves, diretor financeiro da Cedro Cachoeira. Ele explica que a companhia, fundada em 1872, está, na verdade, colhendo os frutos de um plano elaborado em 2004.

O objetivo era um só: sair da ?vala comum? das commodities e tentar se posicionar como sinônimo de qualidade e inovação. Para isso, foram aplicados R$ 113 milhões na melhoria e flexibilização do processo de produção das quatro fábricas situadas em Sete Lagoas, Caetanópolis e Pirapora, todas em Minas Gerais. Das linhas da Cedro saem anualmente 168 milhões de metros quadrados de tecidos, entre denim (índigo) e sarjas (brim). Montante suficiente para lhe garantir a terceira posição do ranking, atrás de Vicunha e Santista.

O investimento contemplou ainda a criação de tecidos tecnológicos, desenvolvidos em conjunto com indústrias químicas como a Basf e a Clariant. São produtos dotados de fios ?recheados? com partículas nanotecnológicas, capazes de conferir propriedades bactericida e antichama, por exemplo, às roupas. Seu uso se dá, majoritariamente, na chamada linha profissional que abastece confecções que fabricam uniformes para hospitais, forças de segurança e outros segmentos onde os trabalhadores são expostos a riscos. Os tecidos dessa divisão respondem por 35% das receitas da Cedro Cachoeira e possuem o selo de aprovação da Universidade de Alberta, no Canadá, especializada nesse tipo de certificação.

O mesmo foi feito na divisão fashion. Antes de se aventurar no chamado mercado de prestígio, a tecelagem mineira fez uma ampla pesquisa de tendência. Contratou bureaus de moda e consultorias internacionais como a britânica WGSN. Medida mais que justificada, já que os mostruários são desenvolvidos com antecedência de até dois anos em relação ao período que as roupas chegarão às vitrines da Europa e dos Estados Unidos. ?Qualquer erro pode ser fatal?, ressalva Cássia Silveira, gerente de marketing da Cedro Cachoeira. E no mercado da moda não tem meio termo: ou você está ?in? ou está ?out?.