O dólar volta a subir ante o real nesta sexta-feira, 17, após acumular ganhos de 3,68% em cinco das últimas seis sessões. O novo avanço é causado pela deterioração dos mercados internacionais em meio à retomada das tensões com a Turquia. Às 11h50, o dólar à vista subia 0,89%, a R$ 3,937, após ter ultrapassado a casa das R$ 3,95 na máxima da manhã.

Pela manhã, o tribunal superior turco, segundo um jornal local, rejeitou o pedido dos Estados Unidos para libertar o pastor americano, Andrew Brunson. As tensões bilaterais se agravaram também depois que os dois países impuseram tarifas a importações um do outro. Às 9h27, o dólar subia 5,45%, a 6,1484 liras.

No Brasil, a espera pelo segundo debate entre os candidatos à Presidência e pelas próximas pesquisas eleitorais deixa os investidores na defensiva. Uma sondagem da XP Investimentos mostrou avanço maior que o esperado do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), vice na chapa de Lula e que poderá substitui-lo caso a candidatura do ex-presidente seja barrada pela Justiça.

O resultado aumentou a expectativa com a divulgação das pesquisas do Ibope e do instotuto MDA registraram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) as primeiras pesquisas de intenção de voto com abrangência nacional depois do prazo limite de inscrição das chapas, que se encerrou na última quarta-feira, 15. A divulgação de ambas será na próxima segunda-feira, 20.

Bolsa de valores está em queda
A Bovespa opera em queda de 1,45%, aos 75.702,67 pontos. O motivo é o mesmo que contamina o câmbio: a retomada da cautela diante da crise da Turquia, que mantém em baixa as principais praças acionárias globais.

Corrobora para a situação, a agenda esvaziada nesta sexta-feira no Brasil. Isso faz com que os ativos locais fiquem mais expostos ao mau humor externo.

Há também apreensão dos agentes em relação ao cenário eleitoral. Nesta sexta-feira, o foco está no segundo debate entre candidatos à Presidência, que será realizado à noite, na Rede TV!.

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta judicialmente que o vice candidato do PT, Fernando Haddad, participe do programa no lugar do cabeça de chapa, que foi impedido de sair da prisão.

Estímulos à economia turca
O Ministério de Finanças e Tesouro da Turquia anunciou nesta sexta-feira medidas de estímulos direcionadas a empresas, após a recente volatilidade da moeda do país. “Os canais de crédito serão mantidos abertos”, afirmou o ministério em comunicado.

O ministério disse também que continuará dando flexibilidade a vencimentos e preços para garantir o fluxo de caixa das empresas, que irá ignorar limites para concessão de crédito, em razão do recente forte aumento registrado pela lira, e que não aceitará mais pedidos para execução de dívidas.

Em teleconferência com investidores internacionais, o ministro de Finanças da Turquia, Berat Albayrak, reconheceu ontem as difíceis condições atuais, mas prometeu que o país sairá mais forte deste período de turbulência. Desde o começo do ano, a lira acumula desvalorização de quase 40% em relação ao dólar.

Na quinta à noite, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar a Turquia e disse que seu governo não irá pagar pela libertação do pastor Andrew Brunson, a quem chamou de “pastor cristão maravilhoso” e que pretende “gastar menos” com Ancara.

Light nas alturas
O anúncio de que avalia a possibilidade de realizar uma oferta de ações impulsiona as ações da Light nesta sexta-feira. Já Marfrig, que chegou a subir 8% na abertura com notícias sobre a venda da Keystone, perdeu fôlego, chegando a cair mais de 5%. Destaque ainda para Bradespar, Vale, siderúrgicas e empresas de papel e celulose, beneficiadas pelo avanço do dólar.

As ações ordinárias da Light abriram com alta expressiva, chegando a bater na máxima de R$ 14,42 (+8,01%) e se mantém como destaque entre as maiores valorizações do mercado, com alta de 4,72% por volta das 12h. Além da oferta de ações, que beneficiará o caixa da empresa, operadores destacam o acordo com o GP, por conta da expertise na área.

Em relatório, o BTG Pactual destaca que apesar de o documento divulgado não trazer informações sobre o tamanho da potencial diluição, preço e cronograma, o anúncio é positivo para a Light. “A injeção de capital na empresa é bem-vinda e vital para ajudar o balanço da elétrica”, diz. O banco comenta ainda o fato do GP fazer parte do processo e lembra que o banco de investimento tem histórico positivo no setor, tendo implementado um plano de sucesso na Cemar.

Marfrig: do céu ao inferno
Marfrig disparou na abertura do pregão com notícia de que a empresa fechou no fim da noite de quinta-feira a venda da Keystone Foods para a americana Tyson Foods, por cerca de US$ 2,5 bilhões. O papel da empresa de alimentos chegou a bater a máxima de R$ 7,45 (+8,28%), chegando a passar por leilão. Uma segunda leitura do acordo, no entanto, fez a ação reduzir o ritmo, inverter o sinal e bater a mínima de R$ 6,43 (-8,43%), o que disparou novos leilões.

Operadores comentam que o valor ficou abaixo do que a empresa pretendia vender inicialmente, de US$ 3 bilhões. Em relatório, o BTG Pactual destaca, que apesar de a notícia não ter sido confirmada pela empresa, a venda ajudará na redução da alavancagem da companhia, que deve cair de 4,6 vezes para 1,9 vez no fim do ano. Há pouco, Marfrig ON cedia 6,10%, cotada a R$ 6,46, ocupando posição de maior queda do Ibovespa e entre as principais baixas do mercado.

Eletrobras e Petrobras só ensaiam alta
As ações da Eletrobrás abriram em baixa, chegaram a ensaiar uma alta, mas voltaram ao negativo, exibindo perdas de 4,37% na ON e de 2,80% na PNB instantes atrás, entre as principais quedas do Ibovespa. Sobre a estatal, Hersz Ferman da Elite Corretora comenta que a “novela” da privatização das distribuidoras tem deixado o papel volátil. Ele destaca que, na quinta-feira, 17, a Justiça do Rio suspendeu o processo, o que pesa nas ações. Em nota ao mercado, no entanto, a estatal informou que está estudando medidas cabíveis para suspender decisão.

Ainda sobre a elétrica, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou nesta sexta-feira no Diário Oficial da União alteração no cronograma de desestatização das distribuidoras da Eletrobrás. O leilão ocorrerá dia 30 de agosto para três delas: Eletroacre, Ceron e Boa Vista Energia. Quanto à Amazonas Distribuidora de Energia o leilão está marcado para 26 de setembro. Já a distribuidora alagoana Ceal segue impossibilitada de ir a leilão por conta de uma disputa envolvendo governo federal e o Estado de Alagoas.

Outra estatal, a Petrobrás, opera em baixa se descolando do movimento do petróleo, que sobe no mercado internacional. Há pouco, a ação ON mostrava queda de 1,41%, enquanto a PN tinha baixa de 2,01%.

A equipe de análise da Guide Investimentos comenta que sem grande “ajuda” do exterior, e ainda com dúvidas sobre as perspectivas políticas por aqui, o viés para os ativos locais, nesta sessão, é mais negativo. “O investidor deve continuar cauteloso”, comenta a equipe de análise da corretora.

Vitor Suzaki, da Lerosa Investimentos, também lembra a pressão sobre alguns papéis devido ao vencimento do exercício de opções sobre ações na próxima segunda-feira. “Há uma natural montagem e desmontagem das operações hoje na tradicional briga entre comprados e vendidos”, comenta.

Sobre a estatal destaque ainda para a notícia de que a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) quer que os agentes econômicos envolvidos no comércio de combustíveis, incluindo a Petrobrás, divulguem os componentes dos seus preços.

Vale e siderúrgicas são destaques
Vale, Bradespar, siderúrgicas e empresas de papel e celulose são destaque entre as altas do Ibovespa nesta manhã, beneficiadas pelo avanço do dólar, segundo operadores. Há pouco, Bradespar PN subia 3,06% e liderava as maiores valorizações do Ibovespa, seguida por Suzano ON (+2,76%), Vale ON (+1,55%), Fibria (+0,90%), Embraer ON (+0,0,32%) e CSN ON (+0,45%).

Para Ferman, da Elite, empresas com receita em dólar e custos em reais se beneficiam hoje do avanço da moeda americana. No caso da Vale, especificamente, destaca que a empresa tem gerado bom caixa e reduzido endividamento. Já as siderúrgicas, apesar de atenderem principalmente o mercado interno, têm seus preços beneficiados pelo dólar. “Quando o dólar sobe, eles têm espaço para aumentar preço no mercado doméstico”, comenta.

Banco Inter sofre com suposto vazamento
Fora do Ibovespa chamou a atenção a queda do Banco Inter diante de notícias sobre o vazamento de informações de seus clientes. Na mínima, as ações chegaram a R$ 22,69 (-5,06%). Há pouco, o papel cedia 3,97%, a R$ 22,95.

O Banco Inter confirmou pela primeira vez que dados de seus clientes foram vazados na internet. Em nota enviada aos correntistas, o banco disse que a “exposição dos dados foi de baixo impacto” e que os clientes prejudicados de forma grave foram notificados. Segundo apurou o Estado, o vazamento está sendo avaliado pela Justiça de Brasília, em um caso que corre em sigilo, e também é motivo de um processo pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), uma vez que o Inter tem capital aberto desde abril deste ano. Na nota enviada aos correntistas, o banco disse que, em maio, identificou um incidente de segurança em seu sistema e “alguns dados foram acessados e divulgados”.