Os advogados da Catho, maior empresa de recrutamento de executivos do País, podem se preparar para uma briga feia. Acusada de invadir os arquivos de competidores, furtar informações e praticar concorrência desleal, a empresa já era processada pela rival Curriculum, como adiantou reportagem da DINHEIRO na semana passada. Nos próximos dias, a Catho será denunciada em novas frentes. A concorrente Manager vai processá-la sob a acusação de furtar endereços eletrônicos e currículos de seu banco de dados. ?Junto com a Curriculum, fomos os maiores prejudicados pelas práticas de concorrência desleal?, afirma Ricardo Xavier, presidente da Manager. Outras duas rivais da Catho, a Gelre e a Empregos, estudam se vão entrar com ações na Justiça e a Embratel analisa o caso. Já a Curriculum abrirá um processo criminal, além da ação cível que move desde o início do ano.

A denúncia da Curriculum será baseada numa nova informação revelada pelo laudo dos peritos Giuliano Giova e Ricardo Theil. Nomeados pelo juiz Luís Mário Galbetti, da 33a Vara Cível, eles examinaram o conteúdo de mais de 30 computadores da Catho. De acordo com a perícia, empregados da Catho buscaram números de CPF e CGC falsos para se cadastrar em sites de rivais e capturar dados sem chamar a atenção. Eles teriam até um arquivo, o ?GeraCPFCGC.zip?, para burlar os sistemas de verificação. Ainda segundo o relatório, a técnica para produzir os códigos veio do programa ?fraude.exe?, obtido no site ?ACM Hacker?s?, especializado em pirataria digital.

?Ae mano…tem um numero de cpf falso??, escreveu numa mensagem eletrônica Adriano Meirinho, o responsável pelo site da Catho, segundo o laudo. ?hehe to roubando umas vagas: aí para assinar a Manager num posso colocar meu cpf neh?, completou o funcionário da Catho. Em trocas de e-mails e icqs ? mensagens eletrônicas instantâneas ? copiados pelos peritos, Meirinho se gaba de ser um ?hacker/cracker? (?hacker: descobri falhas no sistema?, escreveu ele, ?cracker: fiz um programa para roubar informações e estou roubando?).

A advogada da Curriculum, Juliana Rosenthal, do escritório Rosenthal & Soussumi, afirma que usará as informações sobre falsificações de CPFs e CGCs como prova de má-fé. ?Fica claro que eles usaram informações falsas para driblar a segurança dos sites e praticar concorrência desleal?, disse a advogada. Em nota oficial, a Catho sustenta que não desrespeitou a lei. ?Os dados não gozam de proteção jurídica. São públicos?, escreveu Thomas Case, dono da empresa. Já Meirinho afirma que não houve invasão dos sites para furtar dados. ?Na medida em que você coloca e-mail num site você está sujeito a qualquer tipo de uso da informação.? Os rivais da Catho querem discutir melhor o assunto. ?Já coloquei o número do meu cartão de crédito em sites e nem por isso autorizei ninguém a fazer o que quiser com os dados?, argumenta Jordi Wiegerinck, vice-presidente da Gelre, que teria 68 mil currículos capturados pela Catho e que estuda se vai processar a concorrente.