A seis meses da Copa do Catar (21 novembro a 18 dezembro), os oito estádios estão prontos, mas dúvidas persistem sobre os direitos humanos, uma das preocupações desde 2010, quando o emirado foi escolhido para sediar o evento.

Para os críticos, os progressos realizados na última década são limitados e é preciso exercer uma pressão maior sobre o país e a Fifa, dirigente do futebol mundial.

A ONG Anistia Internacional pediu nesta quinta-feira à Fifa que atribua uma indenização de pelo menos 440 milhões de dólares aos trabalhadores migrantes “maltratados” em obras relacionadas à Copa do Mundo de 2022.

Na Europa, associações de torcedores e federações nacionais, lideradas pela Noruega, levantaram preocupações sobre a segurança de pessoas LGTBQ em um país onde a homossexualidade é criminalizada.

Em um estudo para o International Journal of Sport Policy and Politics em 2016, Paul Michael Brannagan e Joel Rockwood identificaram vários pontos problemáticos. Entre eles estão acusações de corrupção na disputa para sediar o evento, o clima (antes do adiamento para uma estação mais amena) e também os direitos das mulheres, homossexuais e trabalhadores migrantes.

Seis anos depois, o país parece não ter respondido plenamente aos progressos solicitados, apesar dos esforços.

– “O Mundial acelerou as coisas” –

O emirado, cujos gastos em infraestruturas para o Mundial estão estimados em 300 bilhões de dólares, aliviou desde 2016 o “kafalah”, um sistema que convertia assalariados em quase propriedade de seu empregador, e introduziu o salário mínimo em 2020.

“Estas reformas eram inevitáveis e o Mundial acelerou as coias”, afirma Max Tunon, responsável pelo escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Doha. “Outros países da região também fazem reformas, mas poucos no mundo estão no mesmo ritmo que aqui”, destaca.

Para Tunon, estes esforços continuam depois do Mundial graças aos acordos entre o governo do Catar e a OIT, os sindicatos internacionais e países terceiros.

Os direitos das mulheres e da comunidade LGTBQ são mais sensíveis nesta sociedade muçulmana conservadora.

Há três mulheres ministras (Saúde, Família e Educação) e dois terços dos diplomas universitários correspondem foram conquistados por elas, mas “as mudanças mais importantes foram há 20 anos e não nos últimos dez”, lamenta Rothna Begum, da ONG Human Rights Watch.

Ela denuncia, entre outros temas, a tutela das mulheres, que necessitam de uma autorização de um representante masculino para se casar, estudar no exterior ou exercer algumas profissões.

– “Mudança adaptativa” –

Os avanços recentes, como prestar exame para dirigir sem autorização (desde janeiro de 2020) “se devem em grande parte a mulheres que fizeram valer seus próprios direitos”, especialmente nas redes sociais, afirma Begum.

Questionado regularmente sobre os riscos que aos torcedores homossexuais, o comitê organizador promete um evento “aberto a todos”.

Os entre 1,2 e 1,4 milhão de visitantes esperados estarão autorizados a portar, se desejarem, bandeiras arco-íris (símbolo da comunidade LGBTQ+), conforme autorização da Fifa.

Enquanto isso, os organizadores pedem respeito pela cultura local e prudência.

Gestos e símbolos poderão ser usados durante a Copa do Mundo para mudar mentalidades?

“Podem encontrar duas respostas, uma maior aceitação ou reações muito duras, dependendo de como se apresentarem”, estima Merissa Khurma, diretora do programa para o Oriente Médio do centro de reflexão americano Wilson Center.

“Um grande evento não vai desencadear um mar de mudanças, mas o fato de gerar discussão já é importante”, aponta.

Merissa Khurma acredita em “uma mudança adaptativa” neste país de 2,8 milhões de habitantes, sendo que apenas 10% são catarianos.

“As questões LGTBQ são um pouco mais sensíveis porque há componentes socioculturais e religiosos”, disse Khurma. No entanto, considerando o grande número de expatriados e a educação de jovens catarianos em universidade estrangeiras, “é uma questão de tempo para as atitudes mudarem”.