O dossiê elaborado por médicos que afirmam ter trabalhado na Prevent Senior, e que foi entregue à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, revela que a declaração de óbito da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Hang, “foi fraudada”.

Segundo os médicos que elaboraram o documento, a suposta fraude no óbito da mãe do dono da rede Havan “é um dos inúmeros casos que não foram devidamente noticiados”. Ela foi internada no dia 31 de dezembro e morreu em 3 de fevereiro.

Segundo o prontuário dela, havia informação sobre o início de sintomas da Covid e foi adotado o tratamento precoce com hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina antes da entrada na Prevent Senior. Os médicos afirmam que ela teria recebido ivermectina e tratamentos experimentais.

Porém, em vídeo divulgado nas redes, Luciano Hang afirma que até a sua mãe ser diagnosticada com Covid-19, nunca tinha dado “medicamento de prevenção” para ela.

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Os médicos dizem que a “sra. Regina Hang utilizou o kit antes de ser internada e que repetiu o tratamento durante a internação, assim como registram que seu filho, sr Luciano Hang, tinha ciência dos fatos”. Hang é apoiador do presidente Jair Bolsonaro e incentivador do chamado “tratamento precoce”.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou durante a sabatina da CPI desta quarta-feira (22) que Luciano Hang “tinha condições de levar a sua genitora para a lua, mas levou para a Prevent Senior. E lá, segundo as informações, no atestado de óbito não consta que ela veio a óbito por covid”.

Versão da Prevent Senior

A CPI está investigando uma eventual pressão para que médicos da Prevent Senior prescrevessem medicamentos do chamado “tratamento precoce”. Nesta quarta-feira (22), o diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, iniciou seu depoimento à CPI da Covid.

Ele rebateu as acusações feitas à empresa. Benedito rejeitou as alegações e afirmou que desde o início da pandemia a Prevent Senior vem sofrendo “acusações infundadas”. “Todos os colaboradores suspeitos ou com teste positivo para covid eram imediatamente afastados”.

Sobre o apontamento de que mortes foram ocultadas em documento, Benedito alegou que os casos não constavam no relatório em questão porque foram registradas após a confecção do documento.

“De 26/03 a 04/04 ocorreram somente dois óbitos, quando o documento foi escrito”, disse o diretor da empresa, segundo quem o material foi “retirado totalmente do contexto”. Benedito também afirmou que o dossiê entregue à CPI foi produzido a partir de dados furtados e manipulados para “deturpar a conduta de mais de 3 mil médicos”.

Entenda o caso

A empresa de plano de saúde Prevent Senior teria feito um acordo com o governo federal para promover a venda de hidroxicloroquina e azitromicina, dois medicamentos cuja eficácia contra covid-19 não tem comprovação científica.

A denúncia partiu de um grupo anônimo de médicos da empresa, que enviou à CPI da Covid-19 um dossiê com as provas da acusação, divulgado pelo GloboNews. Para legitimar as vendas e o acordo com o poder público, o convênio teria falsificado um estudo que indica a eficácia das drogas no tratamento contra o coronavírus.

A pesquisa, que começou a ser feita em 25 de março deste ano, teria sido manipulada com a omissão de sete mortes de pacientes testados com os medicamentos – apenas dois óbitos são citados.

“Iremos iniciar o protocolo de hidroxicloroquina + azitromicina. Por favor, não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa”, diria o diretor da Prevent Senior, Fernando Oikawa, em mensagem publicada pelo WhatsApp, segundo o documento do dossiê.

A pesquisa foi citada no Twitter do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 18 de abril. “Segundo o CEO Fernando Parrillo, a Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias o tempo de uso de respiradores e divulgou hoje, às 1h40 da manhã, o complemento de um levantamento clínico. O estudo completo será publicado em breve”, postou o presidente.

Outros estudos científicos não sustentaram a eficácia da hidroxicloroquina contra a Covid-19, restando apenas o estudo da Prevent Senior. Essa pesquisa foi aprovada mas depois suspensa pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) por ter iniciado antes de sua aprovação legal.