No icônico filme De Volta Para o Futuro (1985), o jovem Marty McFly aciona por acidente uma máquina do tempo construída pelo cientista Dr. Emmett Brown em cima de um carro DeLorean e retorna aos anos 1950. No pulso do adolescente que viaja no tempo, um relógio Casio CA-53. Não ligou o nome ao objeto? Vamos facilitar: é aquele que tem uma calculadora embutida, inevitavelmente proibido nas provas de matemática três décadas atrás. Lembrou? Então você já deve ter visto ele recentemente no pulso de algum outro jovem por aí. E não, ninguém veio do passado no DeLorean com ele no braço e, portanto, não é uma relíquia. É um modelo novinho ainda vendido pela Casio, que tem feito sucesso como modelo retrô. Esse resgate de estilos do passado tem ajudado a Casio, fabricante japonesa, a crescer no mercado brasileiro. No semestre encerrado em abril, as vendas de relógios da companhia aumentaram 40% no País, enquanto o mercado recuou. “Temos tido muito sucesso com essas linhas associadas à moda. É um movimento muito forte”, disse Rodrigo Garavelli, gerente nacional de vendas e trade marketing da categoria relógios da Casio Brasil.

O CA-53 — ou o relógio-calculadora, como preferir — revolucionou o setor nos anos 1980 e marcou a expansão de produtos japoneses para o mercado mundial. Era o smartwatch da época. Ele ainda é um dos queridinhos da Casio e do público. E a tendência é de que seja assim por muito tempo. Quem sabe por mais quatro décadas? Com certeza o Apple Watch, relógio mais moderno do momento, não estará mais na linha de produção.

A linha retrô da Casio possui modelos que vêm desde 1974 com mesmo design e funcionalidades. Como o A158WA-1_JF, com visor digital quadrado, caixa em aço inoxidável e bracelete de metal. Na corrida contra o tempo para ganhar mercado, junta-se aos modelos antigos o carro-chefe G-Shock, que ganha novas versões a cada mês. As mais recentes atualizações são na linha GA-2100, agora em cores fluorescentes, para possibilitar aos consumidores combinações de roupas e acessórios de acordo com a ocasião. Também vêm ganhando funções como sensores, termômetro, barômetro, altímetro e tábua de maré, para pescadores e surfistas, por exemplo. “O brasileiro compra produtos basicamente seguindo um estilo de vida”, afirmou Garavelli, que nas horas vagas joga futevôlei com um G-Shock no pulso. Antes de entrar na Casio cinco anos atrás e conhecer a fundo o relógio mais resistente do mundo, segundo o Guinness Book de 2017, ele não usava o acessório para a prática esportiva.

OPERAÇÃO Os retrôs e G-shock têm a concorrência dos smartwatches, cujas vendas globais cresceram 24% no quarto trimestre de 2021, segundo a Counterpoint Research. Foram mais de 40 milhões de unidades comercializadas. Recorde para um período de três meses. Para encarar essa disputa em que cada segundo é importante, a Casio promoveu algumas mudanças em sua operação no Brasil. A companhia, que está no País desde 2009, operava a distribuição dos produtos apenas nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. No restante do território nacional, um parceiro fazia esse serviço. A partir de 2017, a empresa assumiu também os três estados do Sul (RS, PR e SC). E desde 2020 passou a controlar toda a distribuição no Brasil, onde possui 1,5 mil lojas revendedoras especializadas, rede responsável por 70% das vendas de relógios da marca. Os outros 30% são divididos entre canais de nicho, como comércio de itens de surfe e skate, além de marketplaces como Magalu e Via. O e-commerce próprio, criado apenas no ano passado, vem ganhando espaço nas vendas. Nele estão disponíveis os mais de 500 modelos da Casio.

Nas lojas físicas, a estratégia é de segmentação. Para redes departamento, como C&A, Renner e Riachuelo, há maior abastecimento de modelos retrô, pela aproximação com a moda. Nos comércios de esportes radicais, os G-Shock são o ponto alto. É boa hora para a Casio, que no Brasil vende tudo o que chega por contêineres de suas cinco fábricas: uma no Japão, duas na China e duas na Tailândia. “A matriz enxerga o Brasil como um dos países de maior potencial de desenvolvimento”, disse Garavelli. O País, que também tem importante atuação em instrumentos musicais e calculadoras científicas, contribui para a receita global de US$ 1,77 bilhão da Casio em 2020. Nos nove meses do ano fiscal de 2021, encerrados em dezembro, foram US$ 1,51 bilhão, aumento de 16% ante o mesmo período anterior. Se desembarcasse de volta para o futuro em 2022 com o DeLorean e seu CA-53 no pulso, Marty McFly iria se surpreender com o ajuste de ponteiros da Casio.