A caudalosa indústria da lavagem de dinheiro começou a secar em Foz do Iguaçu, Paraná. Três anos de cerco cada vez mais fechado do Banco Central, da Polícia Federal e da Receita cortaram o fluxo de dinheiro pelas contas de não-residentes na cidade (as famosas CC-5) a menos de um quarto das quantias que circulavam anteriormente. Segundo o BC, esse giro diário de dinheiro, que chegou a superar R$ 28 milhões em 1998, caiu agora a volumes abaixo de R$ 7 milhões. Neste período foram fechadas 23 casas de câmbio clandestinas, 32 pessoas foram presas e 360 inquéritos instalados. A cidade, com vocação natural para abrigar este tipo de submundo, devido ao movimento gerado pelo comércio na vizinha Ciudad del Este, no Paraguai, foi varrida do mapa da lavagem de dinheiro.

A Polícia Federal calcula que, entre 1992 e 1998, agências de banco e casas de câmbio irregulares de Foz serviram de lavanderia para algo perto de R$ 30 bilhões. No começo, o mecanismo mais usado era o de simplesmente depositar dinheiro vivo nas contas de não-residentes e dali sumir com ele, para trazê-lo de volta mais tarde como se fosse estrangeiro. O BC proibiu então depósitos em dinheiro nas CC-5, mas a máquina da lavagem passou a depositar cheques, alegando que eles provinham de compras feitas por brasileiros em Ciudad del Este. Os sacoleiros, que chegaram a ser 2,5 milhões em 1993, ajudaram a encobrir a fraude, mas não o bastante: o BC detectou que o volume médio de depósitos era quatro vezes maior que o giro motivado pelo comércio.

O esquema resistiu até o fim do ano passado, mas sofreu o golpe de misericórdia quando BC e PF começaram a controlar o fluxo de cheques de pequeno valor. Eles tinham procedências de todos os cantos do Brasil ? e raramente vinham de Ciudad del Este. A investigação revelou que os grupos que trabalhavam com a lavagem de dinheiro compravam cheques de empresas de factoring para depositá-los em Foz, como se tivessem sido emitidos por sacoleiros. Eram cheques abaixo de R$ 10 mil, e que por isso não precisavam ser identificados. No auge das investigações, o BC chegou a suspender a licença que permitia os depósitos dos cheques supostamente oriundos do Paraguai. Um funcionário do Banco del Paraná, o braço paraguaio do Banestado, chegou a ser flagrado cruzando a Ponte da Amizade com R$ 1,17 milhão em 841 cheques. A autorização voltou, mas os bancos que aceitavam este tipo de operação passaram a ser responsáveis pela veracidade dos documentos. Banestado, Banco do Brasil, Real e Bemge reduziram os depósitos ao máximo. O quinto banco que fazia a operação, o Araucária, quebrou no mês passado. A máfia da lavagem, como conseqüência, arrumou as malas e mudou de ares. O BC agora busca pistas do esquema em municípios longe da fronteira, no interior paulista.

Colaborou Mauri König