Desde sua criação, em 1997, a CasaCor já apresentou cerca de 13,5 mil ambientes para mais de 7,5 milhões de visitantes em edições realizadas em diversas cidades do Brasil, em capitais latino-americanas e em Miami, nos EUA. Em 35 anos de mostra, os mais de 7 mil profissionais convidados para apresentar diferentes propostas do que é morar bem ocuparam uma área total de 1,6 milhão de m2. Além dos números que atestam seu sucesso, a CasaCor se consolidou como a maior realização criada nas Américas para traduzir, em diferentes visões e abordagens, as principais tendências da arquitetura, do design de interiores e do paisagismo. Tudo isso está resumido em painéis multimídia expostos nas rampas circulares que dão acesso à CasaCor São Paulo deste ano. Montada nos dois mezaninos do Conjunto Nacional, edifício construído em 1963 na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, ela soma este ano 10 mil m2, incluindo uma área externa onde já funcionou o Restaurante e o Salão de Chá Fasano.

Aberta na terça-feira (5), a mostra fica em cartaz até 11 de setembro, com 59 ambientes. São 30 estúdios e lofts, sete jardins, além de lojas, restaurante, bar e café. Segundo o CEO André Secchin, tanto a escolha do lugar quanto a variedade de espaços oferecidos ao público se deveu a dois propósitos. O primeiro é inserir a mostra em um “corredor cultural”. Com sua variada oferta de escritórios, lojas, cinema, livrarias, casa de show e opções gastronômicas, o Conjunto Nacional sintetiza a pulsação da vida na cidade. Por ali passam diariamente cerca de 15 mil pessoas. Por ser um local de passagem e não um destino, como o Jockey Club, o atual endereço tende a atrair gente que valoriza não apenas a arquitetura como a própria relação com a cidade.

PÚBLICO PLURAL O segundo motivo para a escolha do Conjunto Nacional é aproximar a CasaCor de um público mais jovem, diverso e plural. “Nos permitimos abraçar quem circula por ali com uma exposição que guia o visitante desde o piso térreo até a entrada da exposição”, afirmou Secchin.

O tema deste ano, Infinito Particular, inspirado em uma canção de Marisa Monte, foi definido pelo trio de curadores Livia Pedreira, Pedro Ariel Santana e Cris Ferraz para desafiar os arquitetos, designers e paisagistas convidados a projetar ambientes que priorizem harmonia, equilíbrio e conforto, de modo a proporcionar bem-estar físico, mental e espiritual. Isso fica particularmente claro nas escolhas da arquitetra Brunete Fraccaroli, uma das homenageadas deste ano (leia no quadro da página seguinte), ao lado de nomes consagrados e com carreiras intrinsicamente ligadas à Casacor: Sig Bergamin, Rosa May Sampaio, Consuelo Jorge, Leo Shehtman e Marina Linhares. Fiéis ao tema proposto pelos curadores, muitos dos espaços propõem reflexões sobre o tempo. Há referências ao passado, caso do espaço criado por Marcelo Salum em alusão à icônica loja Larmod, dos artistas Gregório Kramer e Attilio Baschera, que revolucionaram a decoração com o design de estamparias nas décadas de 1980 e 90. Olhando para o presente, os veteranos dividem espaço com estreantes na mostra, caso de Barbara Dundes e Wesley Nunes.

ESTREANTE Proposta de Barbara Dundes, que participa pela primeira vez da CasaCor.

Por fim, há um olhar para o futuro, que se manifesta tanto na pegada sustentável quanto no uso de tecnologia. Além de neutralizar as emissões de carbono e de prever a doação de cerca de 40 toneladas de materiais nobres usados pelos profissionais em seus ambientes, a CasaCor pensou no aspecto social ao contratar recepcionistas em parceria com o Instituto Estou Refugiado. No âmbito da digitalização, o CEO André Secchin destaca o lançamento de um aplicativo da mostra que transcende o espaço expositivo. “Ele adiciona ao visitante conteúdos sobre o profissional que criou o ambiente e preza pela visibilidade dos produtos que estão ali. Com isso, a gente consegue ter mais inteligência de mercado e dar maior retorno para as marcas”, afirmou.

O living de 85m² criado por Brunete Fraccaroli para a edição comemorativa de 35 anos da Casacor São Paulo é um convite ao relaxamento. “Tudo nesse ambiente é para tranquilizar”, afirmou a arquiteta ao explicar sua interpretação pessoal do tema Infinito Particular proposto pelo trio de curadores da mostra. “Quando a gente volta para casa, carregado de informações depois de um dia de trabalho, é preciso fazer uma pausa, uma reflexão”. Para Brunete, passado o período de reclusão da pandemia, as pessoas retomaram o convívio social e agora buscam um novo estilo de vida. “É o momento de respirar, contemplar e seguir adiante.”

Embora predomine o branco, que é a soma de todas as cores, os revestimentos e texturas remetem à natureza. Uma parede de vidro curva destaca a obra de arte esculpida por Cris Campana no formato de uma árvore, um Jequitibá que representa os ciclos da vida. Fixados no teto, dois lustres de grandes dimensões feitos com tecidos leves e transparentes, uma espécie de tela. “Foram comprados na 25 de Março”, disse Brunete, referindo-se à meca do comércio popular em São Paulo. A luz é projetada a partir de leds em formato circular. Suave, como pede o estilo minimalista da estante que mescla cheios e vazios, os sofás “para se jogar” e os tapetes com desenho irregular e orgânico. Cinco minutos bastam para concluir: ali reina a paz.