Por Paresh Dave

OAKLAND, Estados Unidos (Reuters) – A Cruise pode se tornar a primeira empresa dos Estados Unidos a obter uma licença em São Francisco para cobrar por transporte de passageiros em carros autônomos. A empresa, controlada pela General Motors, enfrenta oposição de autoridades locais.

Citando preocupações com a segurança, bombeiros, polícia e órgãos de tráfego em São Francisco querem que os reguladores estaduais imponham restrições antes de permitirem que os veículos autônomos da Cruise comecem a transportar passageiros pela cidade. As autoridades querem que a empresa precise de novas autorizações para adição de mais carros nas ruas e a criação de um novo grupo de trabalho de autoridades estaduais e locais.

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“A implantação de carros autônomos em uma escala muito maior aumenta a probabilidade de que um comportamento incomum dos veículos possa levar a ferimentos graves ou morte”, escreveram autoridades da cidade à Comissão de Serviços Públicos da Califórnia, que deve avaliar o pedido de permissão de Cruise nesta quinta-feira.

As autoridades locais citaram episódio em que um carro da Cruise bloqueou brevemente um caminhão de bombeiros de San Francisco em abril que estava a caminho de um incêndio, e dias antes outro veículo sem motorista da marca, parado pela polícia, pareceu sair do local antes que o policial terminasse a averiguação. A empresa disse que seus carros tomaram decisões seguras.

Enquanto a Waymo, da Alphabet, cobra por viagens no subúrbio de Phoenix desde 2018, a implantação proposta pela Cruise envolve uma área densamente povoada, montanhosa e imprevisível e é considerada por especialistas em tecnologia um grande desafio.

Há ainda dúvidas sobre a capacidade dos carros autônomos de conseguirem prever como humanos vão reagir a mudanças de eventos, incluindo as ações do carro. A Cruise deu ao problema um nome, “problema de casais”, disse um ex-funcionário da empresa.

Uma década desde que a Califórnia emitiu pela primeira vez permissão para testes de veículos autônomos, viagens sem problemas e que respeitam as regras de trânsito são a norma, mas surpresas persistem.

Em uma apresentação pública no ano passado, o diretor sênior da Cruise Brandon Basso descreveu a “incerteza cinemática”, um desafio enfrentado pelos carros autônomos em prever ações de humanos nas ruas e decidir, por exemplo, quando ceder a passagem.

Segundo a companhia, os veículos da marca conseguem entender dinâmicas sociais complexas e se preparam para incertezas por meio da tomada de ações seguras.

Mesmo as autoridades de San Francisco que contestam a permissão para os carros da companhia dizem que, apesar das “exceções evidentes, os carros sem motorista da Cruise parecem geralmente operar como um motorista defensivo cauteloso e atento às regras”.

Embora os carros autônomos possam se adaptar atos de infração de regras de trânsito cometidos por pedestres e motoristas próximos, “erro ou comportamento humano, como uma violação de regras de trânsito que diverge dos prováveis ​​padrões de comportamento, é um fator presente em um número desproporcional de colisões”, disse a Waymo à Reuters em comunicado.

A Cruise não revela o que três ex-funcionários dizem ser duas estatísticas importantes de segurança internamente: com que frequência seus carros encontram situações novas ou experimentam o que a empresa chama de “incidentes críticos de segurança”, uma combinação de acidentes e quase acidentes.

Registros públicos vistos pela Reuters mostram que carros da Cruise se envolveram em 34 acidentes com danos corporais ou mais de mil dólares em danos materiais em um universo de quase 4,9 milhões de quilômetros percorridos durante um período de quatro anos até maio de 2021.

Os documentos mostram tentativas de se evitar colisões repetidas. Em 28 dos casos, a Cruise buscou correções tecnológicas, que muitas vezes estavam relacionadas a melhorar as previsões a respeito do que os humanos farão. A empresa também relaxou algumas regras: incluindo uma resposta a um acidente de 2019 que permite que o carro “ajuste a estrita aderência a todas as faixas pintadas”, para que possa circular entre caminhões estacionados ou ciclistas lentos.

Em janeiro, a Waymo buscou uma ordem judicial para preservar a confidencialidade de seus dados comparáveis, chamando-os de segredos comerciais. O Estado não se opôs ao pedido e os registros da Waymo permanecem sob sigilo.

Alguns acidentes geraram processos. Um ciclista entregador e um piloto de uma scooter processaram a Cruise e a Waymo fez um acordo em um caso envolvendo acidente ocorrido em 2016.

O ciclista Christopher McCleary, que no mês passado fez acordo no processo com a empresa, afirmou que ficou ferido quando o carro da Cruise parou de repente em São Francisco em 2018 e questiona os testes de carros autônomos em vias públicas.

“Infelizmente”, disse ele por email. “Eu sinto como se a Cruise tivesse ‘aprendido’ com o acidente e que isso seria um sacrifício que eu tive de sofrer para permitir que os carros da empresa sejam melhores em prever situações.”

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