Os dois últimos anos se mostraram desafiadores para a indústria automotiva mundial diante dos impactos da pandemia. E, a exemplo do que aconteceu no período, o mercado brasileiro vive um cenário de incertezas para 2022. A crise dos semicondutores, aliada a questões políticas (eleições), econômicas (alta da inflação e da taxa básica de juros) e de saúde (Covid-19), dificulta as projeções, como afirmou nesta sexta-feira (7) o executivo Luiz Carlos Moares, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Não à toa a entidade evita bater o martelo em relação a números, após ser obrigada a rever os dados por duas vezes no ano passado. Agora, estima crescimento de 9,6% na produção na temporada, para 2,46 milhões de unidades, em relação aos 2,24 milhões de 2021, mas adverte que tudo pode mudar. O volume ainda está distante dos 2,94 milhões de 2019.

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Para complicar não estão descartadas novas interrupções dos trabalhos nas fábricas pelo País devido ao avanço da variante Ômicron e à falta de componentes. Um problema que impediu que ao menos 300 mil veículos saíssem das linhas de montagem no ano passado. Globalmente esse volume ficou entre 7 milhões e 9 milhões. A situação é preocupante e põe em risco também a manutenção dos empregos no segmento. Atualmente cerca de 100 mil colaboradores compõem os quadros das montadoras. Até novembro, apenas na Stellantis – que engloba 14 marcas, entre elas a italiana Fiat, a americana Jeep e as francesas Citroën e Peugeot – 1,8 mil estavam em lay-off, por causa da falta de peças para a fabricação de carros. Metade deles voltou às atividades em dezembro à medida que os componentes chegaram às plantas das marcas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraná.

Diante do estrangulamento das cadeias globais de produção, o que consequentemente acaba acarretando na alta do preço de muitas matérias-primas utilizadas na produção dos veículos, como o aço e a borracha, por exemplo, o valor do carro zero chegou a ter uma variação média de até 7% no ano passado. O Fiat Mobi e o Renault Kwid, modelos mais baratos produzidos no mercado nacional, não saem dos pátios das concessionárias por menos de R$ 47 mil, o que torna ainda mais difícil o acesso das pessoas ao carro novo. E o consumidor pode preparar o bolso: novos reajustes são previstos para 2022 diante de tantas adversidades.

A alta do preço dos veículos novos, aliada à falta de alguns modelos nas concessionárias, fez disparar a procura por usados e seminovos em 2021. Foram comercializadas 15,1 milhões de unidades, crescimento de 17,8% em relação a 2020 e de 3,5% na comparação com 2019, de acordo com a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto). A procura deve se manter aquecida ao menos até 2024.

O aumento do valor dos combustíveis é outro desafio que promete testar a paciência e o bolso dos donos de veículos automotores na temporada. Em 2021, a gasolina e o diesel subiram 44% nos postos pelo Brasil, de acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Restou aos brasileiros buscarem saídas para os problemas. Enquanto alguns apelaram ao transporte coletivo, outros trocaram seus automóveis por motocicletas de baixo consumo e muitos se renderam aos carros eletrificados, sejam híbridos ou 100% elétricos, neste caso com preço inicial de R$ 150 mil.

A escolha fica evidente nos números recordes de 2021 apresentados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Foram comercializadas quase 35 mil unidades, ou mais precisamente 34.990. Um aumento de 77% sobre os 19.745 exemplares negociados em 2020 e de 195% em relação aos 11.858 do período anterior. A entidade previa inicialmente a venda de 29 mil veículos. Uma realidade ainda muito distante da maioria da população brasileira, mas que pode servir de espelho para os futuros projetos das montadoras.