O processo de eletrificação dos automóveis em andamento em vários países, especialmente os europeus, pode colocar em risco a sobrevivência de empresas do setor. A preocupação é do presidente mundial do grupo PSA Peugeot Citroën, Carlos Tavares, para quem a urgência em mudar a forma de abastecimento é uma exigência “política”, que vem de governos, e não do setor automobilístico.

“O custo dessa transição é enorme e quem não cumprir as etapas até 2030 receberá multas exorbitantes, o que poderá matar a empresa”, diz o executivo português. Há quatro anos ele assumiu o comando da PSA, grupo que esteve à beira da falência em 2012, voltou a ser lucrativo e comprou da General Motors, no ano passado, a fabricante europeia Opel.

Tavares esteve esta semana no Brasil, em visita à fábrica em Porto Real (RJ) e falou a um grupo de jornalistas sobre suas preocupações com as mudanças que o setor automotivo enfrenta nesse momento em que a maioria das montadoras estabeleceu prazos para priorizar modelos elétricos e híbridos em substituição aos movidos a motores a combustão.

Ele reclama que não há debate aberto sobre como será gerada a energia – se vier do carvão, por exemplo, o processo gera poluentes. “Não se fala sobre as emissões das fábricas de baterias e o processo de reciclagem dessas baterias”, acrescenta o executivo, que também tem dúvidas sobre a capacidade de geração de energia para abastecer toda a nova frota, sobre os custos dessa energia e a infraestrutura para abastecimento.

A indústria automobilística emprega na Europa 12,6 milhões de trabalhadores, informa Tavares, que também preside a Acea, associação das montadoras europeias. A entidade é outra crítica da forma como legisladores do Parlamento Europeu estão impondo as regras para reduzir emissões. O movimento se intensificou após o escândalo do “diesel gate”, envolvendo manipulação de testes para encobrir emissões de carros a diesel.

O presidente da Volkswagen na América do Sul e Brasil, Pablo Di Si, ressalta que, nos mercados mais avançados, a venda de carros elétricos é suportada por subsídios governamentais que não poderão ser mantidos por muito tempo. Ele defende, contudo, a eletrificação no longo prazo pois será a base para os carros autônomos.

Lançamento

Apesar das críticas, a PSA se prepara para lançar modelos 100% elétricos em 2019 e afirma que terá versões elétricas ou híbridas de toda sua gama de produtos até 2025. “Optamos por desenvolver tecnologia própria e faremos vários componentes próprios”, diz o executivo, que não revelou investimentos.

Outra justificativa para a corrida ao carro elétrico, diz Tavares, é o receio das companhias europeias em perder espaço para a China, que já declarou que pretende liderar o processo global de eletrificação. “Ou nos adaptamos, ou morremos.”

O Brasil, de certa forma, está mais distante dessa discussão. “O carro flex é um fator positivo pois já permite avanços”, diz Tavares, se referindo às exigências de redução de CO2 previstas na Cop-21, a conferência sobre mudanças climáticas. “Os objetivos impostos na Europa são mais severos que os da Cop-21”, ressalta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.