Um “balé” de drones com luz laser, um aplicativo de realidade aumentada e equipamentos que permitem mapear a emoção dos foliões. Aos poucos, o carnaval de São Paulo adota ferramentas mais tecnológicas para se aproximar do público e aumentar a interatividade, tanto nos blocos quanto no sambódromo. O custo é, ao menos por enquanto, o maior impeditivo para a proposta se disseminar de forma mais generalizada. Por isso, iniciativas do tipo costumam envolver apoio ou patrocínio de empresas de tecnologia ou envolver desfiles com grande previsão de público.

É o caso do bloco dos DJs Jetlag e Malifoo, de música eletrônica. O desfile será amanhã em um grande trio elétrico, que os organizadores dizem ter o triplo do tamanho tradicional e traz laterais revestidas com telões de LED. “Vai ter bastante conteúdo visual, feito exclusivamente para acompanhar as músicas, sincronizado com efeitos pirotécnicos e fumaça”, conta Thiago Mansur, um dos DJs do Jetlag.

Em dois pontos do trajeto, dez drones vão realizar um “balé”, com lasers e pontos de iluminação. Além dos efeitos visuais, a própria exibição dos DJs utiliza tecnologia. “Temos músicas que são 100% criadas com sintetizadores, que a gente capta os sons com o microfone do celular, que o sax da música foi tocado em um programa de instrumento virtual”, diz Mansur. “A tecnologia é essencial.”

Já o Chucrute Zaidan, que desfila hoje, aposta em tecnologia desde o primeiro desfile, em 2016. “No carnaval, a tecnologia ainda é muito ausente, ainda mais nos blocos. E ela pode transformar de fato a folia”, alega Giliardi Pires, idealizador do bloco e empresário da área, que será acompanhado por 12 drones, que farão o monitoramento do público, a fim de “mediar o entusiasmo” dos foliões. O custo estimado é de R$ 19 mil.

Sambódromo

Fantasias com luzes de LED e um drone transformado na águia da Portela estão entre os recursos tecnológicos já empregados no carnaval do Rio. Em São Paulo, investimentos semelhantes eram menos comuns até meados do ano passado, quando um grupo de pesquisadores e empresários se uniu para transformar um livro sobre a 4.ª Revolução Industrial (ou Indústria 4.0) em um enredo de escola de samba. O resultado estará no desfile Tempos Modernos, da Rosas de Ouro.

A ideia foi discutida durante uma disciplina de pós-graduação da Escola Politécnica da USP, que buscava uma forma de popularizar os conceitos e ideias discutidas no livro Automação & Sociedade: Quarta Revolução Industrial, um Olhar para o Brasil. “O livro teve um interesse baixo, e passamos a nos questionar ‘como comunicar isso para a sociedade?'”, lembra Elcio Brito, pós-doutorado na USP e sócio de uma empresa de tecnologia. Após definir o carnaval como alternativa para tratar o tema, o grupo firmou parcerias com empresas e faculdades, chegando a uma das patrocinadoras da Rosas de Ouro.

Brito lembra que a primeira proposta foi negada pela escola, porque a “tecnologia não emocionava”, o que começou a ser resolvido após a criação de um mascote, o robô ROXP4, que guia a narrativa. Segundo ele, cerca de 200 pesquisadores envolvidos participaram do desenvolvimento do enredo. Uma equipe do Centro Universitário FEI auxiliou, por exemplo, na modelagem em 3D e em recursos de realidade aumentada dos carros alegóricos. Já o Instituto Mauá criou uma pulseira eletrônica para monitorar as reações de integrantes da escola e espectadores.

O desfile terá ainda uma ala com monociclos elétricos, fantasias com QRCode e um aplicativo que permitirá customizar os carros alegóricos de forma virtual e fazer selfies com um filtro que simula um look carnavalesco, dentre outras funções. “Será um case de referência, até por envolver algo praticamente artesanal, que é o carnaval.”

O vice-presidente da Rosas de Ouro, Osmar Costa, comenta que a modelagem dos carros em 3D, por exemplo, permitiu antecipar possíveis problemas. “O carnaval sofreu várias revoluções. Antigamente, todo mundo era comandado por um apito. As coisas foram acompanhando o crescimento do carnaval, com o rádio comunicador, as gravações de imagens para corrigir erros, a transmissão quase em tempo real – além das próprias revoluções tecnológicas em relação à parte musical ou até sonorização”, compara. “Algumas coisas desse desfile vão deixar um legado. Outras são mais difíceis, porque o acesso é oneroso. Nesse momento, temos a oportunidade de um auxílio luxuoso.”

Segurança do carnaval

O governo do Estado utilizará 50 drones para fazer o monitoramento, além de instalar câmeras de reconhecimento facial. Já a Prefeitura terá quatro drones para “visualizar possíveis conflitos” e auxiliar no monitoramento de trânsito. Além disso, os laboratórios digitais da rede Fab Lab Livre SP realizarão oficinas aplicadas ao carnaval, como de criação de adereços e máscaras com corte a laser, por exemplo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.