“Será que tem tesouro aí embaixo? Pode até estar cheio de ouro”, arriscou ontem a vendedora Dalirian Soares, de 47 anos, ao apontar para um conjunto de madeira, cobre e ferro na Praia do Embaré, em Santos, no litoral paulista. “É bonito pensar que passávamos por cima de um barco sem se dar conta, não é? Estou de boca aberta.”

Embora viva a uma quadra dali, a moradora ainda não tinha visitado a carcaça que apareceu sobre a areia há duas semanas, vista por funcionários de limpeza. Foi identificada por arqueólogos como pertencente ao navio inglês Kestrel, construído em 1871 e encalhado na região em 1875 após uma grande tempestade.

Assim como Dalirian, muitos frequentadores da orla foram observar e fotografar os resquícios do navio ontem, no segundo dia do feriado, formando grupinhos de curiosos.

Dentre eles estava a fotógrafa Priscila Zambotto, de 49 anos, que regressou ao local exclusivamente para fazer imagens. “Passei aqui na quinta-feira de manhã, mas estava sem câmera e tinha acabado a bateria do celular. Voltei depois, mas a maré tinha subido”, relata a paulistana, que estava no litoral para aproveitar a folga.

Já a pedagoga Pambela Santana, de 34 anos, e o auxiliar administrativo Heliciono da Silva, de 32 anos, fizeram questão de tirar selfies em frente aos destroços. “A gente adora barcos. Até a nossa lua de mel foi em um cruzeiro”, diz ela, que já fez outras duas viagens de navio.

Para o aposentado Luiz José, de 70 anos vividos “na beira da praia”, o veleiro tem potencial para se tornar um ponto turístico, como o Aquário de Santos e o Estádio da Vila Belmiro.

De acordo com José, a faixa de areia costumava ser mais alta naquela região – o que explicaria o aparecimento da embarcação com a baixa da maré.

Avaliação. Uma análise com auxílio de um sonar deverá definir o destino da embarcação, segundo a subprefeita da Região da Orla e Zona Intermediária de Santos, Fabiana Pires. O equipamento será trazido do interior na próxima semana e a operação deverá ocorrer entre segunda-feira e terça-feira.

Os estudos serão realizados por equipe chefiada por um arqueólogo. Segundo ela, após a análise técnica, a escavação dependerá da aprovação da Marinha. O processo de aprovação e retirada da embarcação deve levar cerca de dois meses. A ideia inicial é restaurar o navio e, se possível, até expô-lo para visitação em outro local mais protegido. Com o sonar, segundo Fabiana, já foram rastreadas outras três embarcações submersas no Porto de Santos.

“No Estado, nunca tivemos a oportunidade de ter uma embarcação tão próxima da areia, de tão fácil acesso, para fazer uma investigação dessas. Estamos sinalizando, para evitar acidentes, e monitorando por câmeras até decidir o que será feito.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.