Depois de uma semana de confinamento, o dentista Leonardo Rodrigues e a mulher, a advogada Alessandra Amorim, ambos de 35 anos, comeram “fora”. Abriram a porta do apartamento, a vizinha da frente também; e no corredor que divide os dois imóveis, os adultos jantaram uma macarronada, enquanto os filhos brincavam.

O motim na Polícia Militar que levou o caos ao Espírito Santo na semana passada fez a população capixaba conviver com a sensação de medo. Enquanto criminosos tomavam as ruas e os números de homicídios, assaltos e saques dispararam, o isolamento e o improviso foram as únicas opções.

Rodrigues chegou a cogitar comprar uma arma de fogo. “Nosso prédio não tem porteiro ou vigia. Se promovessem um arrastão no edifício, como eu defenderia minha família?”, questionou. Ele foi demovido da ideia pela mulher. “Tenho receio de ter arma em casa por causa do nosso filho”, comentou Alessandra, fazendo referência a Lucas, de 2 anos.

A família passou a semana toda trancada em casa. Rodrigues cancelou todos os procedimentos do consultório e calcula ter tido um prejuízo de R$ 4 mil. Alessandra trabalhou de casa.

A consultora de vendas Letícia Ruschi, de 44 anos, não quis saber de sair do condomínio durante toda a semana. “Eu sempre fui muito precavida e apesar de nossa região ser segura, evito sair à noite”, disse. “Quando começou essa onda de violência, não quis nem deixar as crianças descerem ao playground.”

Mãe de Gustavo, 10, e Carolina, 4, Letícia encontrou uma “solução” na terça-feira. “As mães do condomínio passaram a se comunicar por meio de um grupo no Whatsapp e descer até o pátio juntas”, disse. O único da família a deixar o condomínio foi o marido de Letícia, Fábio Ruschi, de 50 anos. Consultor de comunicação, ele teve reuniões diárias na empresa onde atua. Aproveitava as saídas para ir ao supermercado. “A presença do Exército nas ruas talvez tenha sido a imagem mais impactante que vi na vida.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.