O cinema nacional pegou um, tá pegando geral e também vai pegar você em uma sala perto de sua casa. A alusão ao refrão da música tema do longa Tropa de Elite 2, que na sexta-feira 8 estreou sua sequência em 661 cinemas do País, traduz o atual momento da produção nacional. Neste momento há mais de mil salas exibindo cópias de filmes brasileiros, 51% do total de cinemas, o que nunca aconteceu. Esse bom momento inspirou o surgimento de uma nova categoria de profissional na área: a do ator-produtor. E um dos grandes protagonistas dessa nova categoria é o baiano Wagner Moura. 

 

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Contra o crime: Wagner Moura, na pele do policial mais famoso do País. O original do filme está no cofre de um banco

 

O alter ego do Capitão Nascimento, polêmico herói do primeiro Tropa de Elite, não só atua no longa como também o coproduz com José Padilha, o diretor, Marcos Prado e Bráulio Mantovani. O custo total da produção é de cerca de R$ 14,5 milhões e estima-se que Moura terá 2,5% de participação das receitas do filme. 

 

Considerando que ele possa superar a maior bilheteria da história – a de Se eu fosse você 2, que levou 6,1 milhões de brasileiros às salas –, é possível prever uma bilheteria de R$ 60 milhões, o que daria ao ator baiano uma participação de R$ 1,5 milhões. No caso de Tropa de Elite 2, é uma estimativa até conservadora, pois o primeiro filme da série foi visto por 30 milhões de brasileiros.

 

É exatamente neste ponto que a turma do Capitão Nascimento, promovido a coronel na segunda versão, terá sua maior batalha. O primeiro Tropa de Elite arrecadou R$ 20,4 milhões nos cinemas, tendo sido visto por 2,4 milhões de pessoas nas salas. 

 

O problema é que circularam mais de 11 milhões de cópias piradas do filme – e elas estavam disponíveis antes mesmo da estréia da produção. Desta vez, os cuidados em torno da produção têm sido gigantescos. 

 

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Ser ou não ser? Na peça Hamlet, ele foi coprodutor e, como empreendedor, captou patrocínios do Bradesco

 

Existe uma única versão digital do filme, que está trancada no cofre de um banco. Cada uma das 661 salas de cinema receberá apenas uma versão em película, o que dificulta a reprodução. Copiar um filme nesse formato, diz o diretor José Padilha, exigiria a compra de um equipamento que custa mais de R$ 2 milhões. 

 

“Sempre vai ter alguém numa sala filmando com um celular”, diz ele. “Mas a cópia será precária.” Wagner Moura, por sua vez, avalia que a pirataria está enraizada na cultura nacional. Segundo ele, quem compra uma cópia pirata não se vê como parte de uma cadeia criminosa. 

“É como o cara que dá uma propina para o policial numa blitz e depois sai dizendo: que cara corrupto!”.

 

Para cuidar da segurança de Tropa 2, outro dado interessante da produção foi o esquema de distribuição inédito montado para levar as 661 cópias do longa aos cinemas. A Zazen Produções, de José Padilha e Marcos Prado, contratou o executivo Marco Aurélio Marcondes para organizar a distribuição independente, sem participação de nenhuma grande distribuidora, num esquema nunca visto em estreias desse porte (a cópia de um filme custa, em média, cerca de R$ 3 mil). E quanto menos pessoas assistirem a cópias piratas, maior será a receita do ator, que pode até se dar ao luxo de recusar um contrato fixo com a Rede Globo.

 

Ator considerado brilhante, Wagner Moura começou no teatro, fez mais de 18 filmes em dez anos e atuou em novelas da Globo. Agora Moura quer conquistar o mundo da ficção. Para se concretizar como o grande nome da cultura brasileira, ele se embrenha para trás das câmeras e na administração da carteira de captação de recursos de seus trabalhos. 

 

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A peça Hamlet, montada em 2008, um sucesso de público e crítica patrocinado pelo Bradesco Prime, foi coproduzida por ele. Mais de 65 mil pessoas assistiram ao espetáculo, que rodou São Paulo, Rio, Recife e Salvador.

 

Como Wagner, outros colegas, igualmente empreendedores, estão tentando seguir seus passos. É o caso de nomes como Selton Mello e Rodrigo Santoro.  Lá fora, esse movimento de atores produtores é mais antigo e envolve astros hollywoodianos do naipe de George Clooney, Brad Pitt e Tom Cruise.