Uma entrevista coletiva agitou a indústria automobilística nacional na terça-feira 3. Realizada no Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo de São Paulo, ele teve as presenças do governador João Doria e dos executivos Carlos Alberto de Oliveira Andrade, presidente do Grupo Caoa, e Lyle Watters, CEO da Ford na América Latina. O objetivo do encontro era anunciar a intenção de compra da fábrica da Ford, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, pela Caoa. O negócio ainda não está fechado e as empresas não divulgaram valores, mas estimativas do mercado indicam que a Caoa pagará cerca de R$ 1 bilhão pela planta. Em fevereiro deste ano, a montadora americana anunciou que encerraria sua operação em São Bernardo do Campo, onde fabricava exclusivamente caminhões, sob o argumento de que precisava ser mais lucrativa.

Até agora, o que realmente se sabe é que a venda da fábrica da Ford deve ser executada em duas fases, sendo a primeira delas a due diligence, na qual o comprador analisa todas as informações da empresa a ser vendida. Essa etapa tem de ser concluída num prazo de, no máximo, 45 dias. A segunda fase é a compra em si, quando a Caoa pagará à Ford o valor acordado pelas partes. Considerando que o negócio seja consumado, a companhia brasileira ampliará ainda mais sua presença no mercado nacional. Hoje, a Caoa detém as marcas Hyundai (exceto os modelos Creta e o HB20) e Subaru, além de 50% das operações da Chery no País, pelos quais pagou, no final de 2017, cerca de US$ 62 milhões. Na ocasião, o negócio também envolveu a aquisição da fábrica da empresa chinesa em Jacareí, no interior paulista. Ali são montados atualmente dois veículos: o sedã Arrizo 5 e o Tiggo2, um SUV compacto.
A Caoa possui mais uma planta, em Anápolis, Goiás, construída pela própria companhia, onde são produzidos o caminhão HR e os SUVs ix35 e New Tucson, todos da Hyundai, além dos SUVs Tiggo 5X e Tiggo7, ambos da Caoa Chery.

NEGÓCIO DA CHINA O grande mistério, agora, é saber o que a Caoa fará com a antiga fábrica da Ford, que só produzia caminhões. Uma das possibilidades levantadas pelo mercado aponta que a planta seria utilizada para montar modelos da Chery, como o Tiggo. Outra hipótese, segundo especialistas ouvidos pela DINHEIRO, é de que a fábrica será totalmente adaptada à produção de veículos da montadora Changan, uma das maiores da China. A companhia, inclusive, enviou um representante à coletiva de imprensa capitaneada pelo governador João Doria, o que dá ainda mais consistência a essa possibilidade. Coincidência ou não, a Changan é sócia da Ford na China.

Na fábrica de São Bernardo do Campo, os chineses devem montar exclusivamente SUVs, segmento que não para de crescer no Brasil. No mês passado, dos vinte carros mais vendidos no Brasil, seis eram SUVs, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Entre esses, a liderança ficou com o Hyundai Creta, com pouco mais de 6,6 mil unidades emplacadas. Uma das grandes vantagens dos carros da Changan é o preço. Além disso, alguns já contam com motor elétrico, tecnologia que tem feito sucesso entre os consumidores de todo o mundo. A também chinesa JAC Motors anunciou que lançará cinco modelos elétricos ainda este mês no Brasil. Como pede o mercado local, três deles serão SUVs.