Área prioritária para garantir a aprendizagem, a alfabetização tem sido pouco abordada pelos candidatos à Prefeitura de São Paulo em seus planos de governo – ou sequer mencionada nos documentos. A pandemia forçou o fechamento de escolas desde março e o ensino remoto funciona pouco para alunos mais novos. Especialistas preveem grande impacto no desenvolvimento de competências de leitura e escrita, o que exigirá ainda mais foco nessa etapa.

O Estadão analisou os programas de governo enviados ao Tribunal Superior Eleitoral pelos candidatos Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Celso Russomanno (Republicanos) e Márcio França (PSB), os mais bem posicionados em pesquisas de intenção de voto. Faltam, de modo geral, propostas concretas de como melhorar os indicadores de alfabetização na cidade.

Com exceção de Russomanno, esses candidatos participaram de entrevistas sobre seus planos nesta área realizadas pelo Estadão, em parceria com o movimento Todos pela Educação. Foram questionados sobre como, caso eleitos, pretendem melhorar a aprendizagem de crianças paulistanas.

Resultados de prova federal (Saeb) divulgados esta semana indicam que 27% dos estudantes do 2.º ano do ensino fundamental (7 anos) no País não sabem escrever corretamente uma palavra de três sílabas e 4,6% não dominam nenhuma das habilidades de leitura e escrita. O Estado de São Paulo alcançou média de 755,99 nessa prova – não foram divulgados dados por município. A média paulista está um pouco acima da nacional (750), mas abaixo dos Estados do Sul, Minas, Distrito Federal, Goiás e Ceará.

Ausência

Atual prefeito, Covas sequer menciona em seu plano de governo a palavra “alfabetização”. Indagado sobre essa ausência, ele disse em entrevista no dia 23 que o plano passaria por atualização. Por nota, a campanha do tucano afirmou anteontem que, de fato, a palavra alfabetização não é mencionada, mas está subentendida em expressões como “intensificar a promoção da educação para nossas crianças” e “garantir o futuro de crianças”. Segundo a campanha, 92% das crianças são alfabetizadas ao final do 2.º ano do fundamental. E turmas do 3.º ano, que estão no final do ciclo de alfabetização, terão um estagiário, aluno de universidade, para apoiar os professores.

Também não há menção para alfabetização no plano de França. O candidato pelo PSB promete abrir as escolas municipais nos finais de semana e feriados, para recuperar aprendizagens perdidas, sem mencionar foco nas habilidades de leitura a escrita. Ao Estadão, sua campanha afirmou também anteontem que há “problemas estruturais da alfabetização na rede municipal” e propõe a criação de Escolas do Amanhã, como forma de qualificar o ensino público “para alcançar o padrão de excelência e qualidade para aprendizagem adequadas de Português, Matemática, Ciências e demais matérias básicas”.

Já Russomanno lista em seu programa para a recuperação pedagógica, em função da pandemia, reforço escolar no contraturno, “especialmente dos alunos de alfabetização” e indica a intenção de fortalecer programas para “correção do fluxo escolar, redução da evasão e aprimoramento dos processos de aprendizagem”. O candidato do Republicanos também fala em fazer avaliação diagnóstica de aprendizagem, mapear escolas com mais defasagem e contratar professores temporários.

Boulos se comprometeu em seu plano de governo a universalizar a alfabetização e zerar o analfabetismo funcional, mas não indica meios de alcançar essas metas. Procurada, sua campanha diz que essas propostas estão detalhadas em um Caderno da Educação, escrito por educadores ligados à campanha.

Boulos afirmou ainda que a alfabetização será prioridade e considera que suas propostas como melhorias no ambiente escolar, valorização docente e transporte gratuito para reduzir a evasão têm impacto nos indicadores de leitura e escrita de crianças. Em nota anteontem, afirmou que o direito à educação não se limita a crianças – e deve incluir jovens e adultos que não puderam se alfabetizar ou concluir o fundamental. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.