Um juiz canadense concedeu liberdade sob fiança à diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, após ter sido presa nesse país a pedido dos Estados Unidos, em um caso que provocou tensão entre os aliados norte-americanos e a China.

Após três dias de audiências em uma corte em Vancouver, o juiz concordou, na terça-feira, em liberar Meng Wanzhou sob fiança. Ela tinha sido presa no começo do mês a pedido dos Estados Unidos.

“O risco de que não se apresente perante o tribunal (para uma audiência de extradição) pode ser reduzido a um nível aceitável, impondo as condições de fiança propostas por seu assessor”, disse o juiz.

O valor da fiança foi fixado em 10 milhões de dólares canadenses (US$ 7,47 milhões).

As condições de libertação incluem a entrega de seus dois passaportes, que permaneça em uma de suas residências de Vancouver e use tornozeleira eletrônica. Além disso, não poderá se ausentar de casa entre as onze da noite e as seis da manhã, segundo decisão do juiz.

Meng saiu da prisão poucas horas depois.

O grupo chinês comemorou a decisão judicial e disse, em um comunicado, estar “convencido de que os sistemas judiciários canadense e americano chegarão a uma conclusão justa nas outras etapas do processo”.

A empresa também destacou que espera uma “resolução rápida deste assunto” e reiterou que “a Huawei respeita todas as leis e regulamentações em vigor nos 170 países e regiões onde exerce atividades”.

A primeira audiência de extradição foi fixada para 6 de fevereiro. Os Estados Unidos têm 60 dias a partir da detenção de Meng, em 1° de dezembro, para proporcionar toda a documentação necessária para o procedimento.

A executiva chinesa é acusada pela Justiça americana de mentir sobre o uso de uma subsidiária oculta para fazer negócios com o Irã, o que viola as sanções de Washington a Teerã. Se for considerada culpada, a executiva pode ser condenada a mais de 30 anos de prisão.

Na segunda-feira, Meng tinha pedido sua liberdade sob fiança por questões de saúde, já que desde sua prisão recebe tratamento para hipertensão.

– ‘Pressão máxima’ –

Poucas horas antes, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, havia confirmado a prisão de um ex-diplomata de seu país na China em meio a um clima de tensão entre os dois países, provocado pela detenção da executiva chinesa.

“Sabemos que um canadense foi detido na China. Estamos em contato direto com os chineses”, afirmou Trudeau, quando questionado pela imprensa sobre informações de uma ONG sobre a prisão de Michael Kovrig, especialista canadense no nordeste asiático que já foi diplomata em Pequim, em Hong Kong e nas Nações Unidas.

“Estamos comprometidos com este caso, que levamos muito a sério e, evidentemente, estamos proporcionando assistência consular à família”, declarou Trudeau.

A ONG onde Kovrig trabalhou, o International Crisis Group (ICG), confirmou estar ciente das informações sobre sua prisão.

“Faremos o possível para obter informações sobre o destino de Michael e conseguir sua libertação rápida e em toda segurança”, declarou a organização de prevenção de conflitos.

Já o ministro da Segurança, Ralph Goodale, declarou estar “muito preocupado” com a prisão.

Para Guy Saint-Jacques, que era o embaixador do Canadá na China, essa prisão é uma resposta ao caso de Meng.

“Não há coincidências na China”, disse ele à AFP. “O governo chinês quer colocar pressão máxima sobre o governo canadense”, explicou.

O diplomata também disse que, durante seu mandato (2014-2016), Kovrig lidou com questões de direitos humanos e segurança nacional na China, com possíveis reuniões com dissidentes. Para Pequim, porém, ele violou as leis locais.

“Esta organização [ICG] não está legalmente registrada na China e não declarou suas atividades. Portanto, se realizou atividades em território chinês, estava infringindo a lei”, disse Lu Kang, porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, em entrevista coletiva na quarta-feira.

Os Estados Unidos expressaram nesta terça sua “preocupação” com a prisão de Kovrig e pediram a Pequim que “detenha todas as formas de prisão arbitrárias”.

A crise diplomática não parece, no entanto, ter afetado a trégua acordada na disputa comercial entre China e Estados Unidos.

Pequim falou de um cronograma de negociações e o presidente Donald Trump se referiu a “negociações frutíferas” nesta terça.

Trump não descartou a intervenção no caso Meng, por meio do Departamento de Justiça, se isso ajudar a resolver os problemas comerciais com a China.