O laboratório paranaense Prati-Donaduzzi tem vivido nos últimos meses um ciclo de boas notícias em meio ao período de incertezas na economia e de isolamento social. Líder na fabricação de remédios genéricos, com produção anual de 12 bilhões de doses terapêuticas (como comprimidos e cápsulas), a empresa contabiliza crescimento de 30% nas vendas desde o início pandemia, puxadas pela demanda por remédios utilizados no tratamento da Covid-19 – como o antibiótico azitromicina. Mas esse crescimento não é o que mais empolga a companhia. A farmacêutica é pioneira no País na fabricação e na comercialização do primeiro produto à base de canabidiol nacional, o Canabidiol Prati-Donaduzzi, um fitofármaco feito a partir do princípio ativo puro retirado da planta (cannabis) e atualmente utilizado para mais de 400 tratamentos de problemas psicomotores, como epilepsia. A companhia traçou, inclusive, um plano de investimentos de R$ 650 milhões até 2023 para a expansão da capacidade fabril da planta de Toledo, no interior do Paraná. “Já temos contrato assinado com laboratórios de três países da América Latina para exportar o nosso canabidiol, e temos negociações adiantadas com Portugal”, diz o presidente Eder Fernando Maffissoni. “A intenção é levar também o produto a outros países da Europa.”

O fitoterápico, indiscutivelmente, abre portas para a companhia nos mercados internacionais. E foi o único a ter o seu uso autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril, após a criação de uma nova categoria de produtos no País, os de Cannabis. A matéria-prima é importada da Europa e a fórmula é totalmente livre de THC (tetrahidrocanabinol), que é a substância psicoativa. Foram investidos R$ 30 milhões no projeto.

Simultaneamente, a Prati-Donaduzzi desenvolve o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) canabidiol sintético, que após todas as regulamentações da Anvisa poderá ser usado como matéria-prima. “Conseguimos produzir a nossa versão do canabidiol sintético por meio de reações químicas em que não é necessário o uso da cannabis”, afirma o executivo.

FÁBRICA EM EXPANSÃO A capacidade de produção da empresa será ampliada dos atuais 12 bilhões de comprimidos por ano para quase 17 bilhões. (Crédito:Divulgação)

Toda a expertise, os processos e os protocolos exigidos para a produção e comercialização do Canabidiol Prati-Donaduzzi renderam à empresa paranaense mais uma decisão inédita nos 26 anos da sua história. Ela está lançando sua primeira linha de produtos com prescrição médica. Serão 23 soluções para doenças como Alzheimer e Parkinson, além de outras patologias do sistema nervoso central. A empresa tem 33 centros de distribuição e portfólio de 411 produtos comercializados em 55 mil farmácias pelo País.

Desde fevereiro, a empresa tem comprado novos equipamentos para ampliar sua capacidade produtiva, além de ter concluído o projeto de construção de outra fábrica também em Toledo. A etapa de ampliação da estrutura produtiva está em fase de conclusão com a chegada da última máquina adquirida – os equipamentos comprados são importados da Alemanha e da Itália. “Vamos iniciar nos próximos meses a construção da unidade fabril. Prevemos, com isso, crescimento de cerca de 40% do nosso volume de produção”, diz o presidente. Com as novas instalações, a produção deverá saltar dos atuais 12 bilhões de comprimidos para quase 17 bilhões por ano. Maffissoni afirma que o desenvolvimento da Prati-Donaduzzi é bastante acelerado, com crescimento anual de 15% – o faturamento foi de R$ 1,1 bilhão em 2019 e a projeção é de R$ 1,3 bilhão neste ano. “Chegamos a um momento em que estamos operando com 100% da nossa capacidade”. A companhia tem quase 300 profissionais envolvidos na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, com investimento anual total de 5% da receita bruta – R$ 55 milhões. Ao todo, são 4,5 mil colaboradores.

GENÉRICOS A indústria farmacêutica tem se mostrado resiliente às crises econômicas por causa dos medicamentos de uso contínuo, como os hipertensivos. De acordo com balanço da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos), as empresas do setor venderam 1,48 bilhão de unidades em 2019, crescimento de 6,43% em relação a 2018. Em valor, a receita somou R$ 9,82 bilhões, alta de 14,87% na comparação com o ano anterior. Além disso, a participação da venda de genéricos no varejo chegou a 34,03% no mercado total, que atingiu 4,35 bilhões de unidades. O mercado de doses terapêuticas é de 59,4 bilhões de unidades, com 18% de share (10,6 bilhões) para a Prati-Donaduzzi. Desde que chegaram ao mercado, em 2000, os genéricos já proporcionaram uma economia de R$ 160 bilhões aos consumidores.

A presidente da PróGenéricos, Telma Salles, afirma que o investimento da Prati-Donaduzzi na ampliação da produção mostra que os genéricos são o propulsor para o crescimento do mercado. “A empresa tem venda expressiva para o governo (40%) e conquista a cada dia o varejo. Está num caminho pertinente, oportuno e que não tem mais volta. Os genéricos são uma realidade no mundo.”

Bionovis aposta em “remédio vivo”

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Especializada no mercado de medicamentos biológicos ou biofármacos (produzidos a partir de células vivas), a farmacêutica brasileira Bionovis dá importante passo rumo ao projeto de produção de biofármacos de alta complexidade na planta em Valinhos, no interior de São Paulo. Criada em 2012, a empresa formada pelos grupos EMS, Hypera Pharma, Aché e União Química vai investir R$ 421 milhões até o final de 2021 na implantação de programa para o desenvolvimento de dois produtos – o Betainterferona 1 A (em parceria com a alemã Merck, é utilizado para tratar esclerose múltipla) e o Infliximabe (em parceria com a belga Janssen Cilag, é usado no tratamento de outras doenças autoimunes, como a artrite reumatóide). Em ambos os casos, a companhia terá a Bio-Manguinhos/Fiocruz como parceiro local. Os remédios serão repassados ao Ministério da Saúde para atender a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS). “A pandemia (coronavírus) mostrou como o Brasil é vulnerável em momentos de crise na área da Saúde. Somos totalmente dependentes do exterior. E estamos rompendo com isso para que logo mais o Brasil se torne independente nesta área”, diz o presidente da Bionovis, Odnir Finotti.

O executivo revela, por exemplo, que durante uma década o governo brasileiro gastou R$ 6,5 bilhões na importação do medicamento Adalimumabe (usado para tratamento da artrite reumatóide), porque não havia produção no País. Além de ter gasto R$ 3,5 bilhões em dez anos na aquisição do Etanercepte (também para artrite reumatoide), hoje distribuído pela Bionovis. “E o que ficou no Brasil? Nada. Nem profissional especializado em como fazer um produto como esse. Foi dinheiro que saiu diretamente da balança comercial para o exterior.”

O projeto da Bionovis será plenamente operacional em 2022, quando a unidade estará habilitada a iniciar a produção dos biofármacos em escala industrial visando abastecer o mercado brasileiro. Finotti acredita que a farmacêutica terá capacidade de produzir 250kg de proteína para fabricação de medicamentos biológicos, volume que garantirá a capacidade de abastecimento do mercado interno e também do externo. No total, a empresa integra dez Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) com o governo federal e pretende lançar outros cinco produtos nos próximos anos.

O presidente afirma que a companhia já investiu cerca de R$ 320 milhões para ampliação da planta, aquisição de equipamentos (importados da Alemanha, Itália e Suíça) e implantação de estruturas de câmaras frias, essenciais para receber e manter os medicamentos dos parceiros internacionais. “O processo está bastante avançado. Já conseguimos fazer lá a transferência da tecnologia e, a partir de outubro, a unidade estará preparada para começar a produzir o Infliximabe (indicado para doenças como psoríase e artrite reumatoide).”

A farmacêutica, segundo Finotti, investiu em estudos e desenvolvimento de um único produto de alta complexidade cerca de US$ 100 milhões em um ano – R$ 524 milhões na cotação de quarta-feira (24). A Bionovis faturou R$ 450 milhões em 2019 e prevê atingir R$ 600 milhões neste ano. O executivo revela a missão de, em dez anos, tornar a Bionovis uma empresa global de biotecnologia farmacêutica. “Queremos ter o nosso produto próprio até 2027. Pretendemos desenvolver o clone, a célula, o processo e produzi-lo.”