O País acordou, na quinta-feira 5, com a notícia de duas prisões não exatamente inesperadas. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), e Leonardo Gryner, diretor-geral de operações do Comitê da Rio 2016, foram conduzidos logo cedo à sede da Polícia Federal (PF) do Rio de Janeiro. As acusações são graves. Ambos são suspeitos de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo o Ministério Público Federal (MPF) do Rio, a dupla estaria envolvida em subornos pagos aos jurados que escolheram o Rio como a sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Nuzmam é suspeito de ter se beneficiado do esquema. De acordo com o MPF, ele possui 16 barras de ouro, que só foram informadas à Receita Federal no último dia 20 de setembro, em uma declaração retificadora. Barras de ouro são um recurso tradicional para esconder dinheiro do Fisco. Segundo o MPF, há indícios de que, em 2009, durante o processo de escolha da sede dos Jogos, a equipe de atletas da corrupção treinada pelo ex-governador Sergio Cabral Filho cravou recorde atrás de recorde na modalidade arremesso de dinheiro ilícito à distância. Eles teriam comprado o voto de pelo menos um dos eleitores, o senegalês Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo.

Já em março, a imprensa francesa tratava das investigações da Justiça local sobre Papa Massata Diack, filho de Lamine. Ele teria recebido US$ 1,5 milhão do empresário carioca Arthur Cesar de Menezes Soares Filho, procurado pela PF e pela Interpol, e considerado foragido. Soares teria transferido o dinheiro por meio de uma empresa de sua propriedade em um paraíso fiscal no Caribe. Vale relembrar o caso. As cidades favoritas para receber os Jogos eram Madri e Tóquio. Porém, no terceiro turno da votação, o Rio venceu por 66 votos a 32, com ampla preferência dos eleitores africanos. Na época, Shintaro Ishihara, o governador de Tóquio, reclamou de uma “lógica invisível” na vitória do Rio.

Exatos oito anos atrás – a votação ocorreu em 29 de setembro de 2009 – fazia todo sentido para o Brasil brigar para sediar a primeira Olimpíada na América do Sul. O País navegava na prosperidade da alta dos preços de commodities e 40 milhões de cidadãos haviam ascendido à classe média. Embalado pelas promessas do pré-sal, Eike Batista prometia a medalha de ouro entre os mais ricos do mundo. Os Jogos mostrariam ao mundo essa nova face de um Brasil que parecia ter superado os males históricos do atraso econômico e da injustiça social.

Passado pouco mais de um ano, o quadro que se vê é radicalmente diferente. O resultado dos XXXI Jogos Olímicos da era moderna, realizados no Rio de Janeiro, foi o oposto do pretendido. Em vez de mostrar ao mundo um Brasil renovado, a Olimpíada sublinhou, mais uma vez, as mazelas do Brasil velho. Parte da elite do País permanece com a medalha de ouro em assalto triplo. A corrupção furta dinheiro dos cofres públicos, subtrai oportunidades da sociedade e, pior de tudo, rouba da juventude a promessa de um futuro mais justo.