Um novo Oscar está surgindo nas quadras brasileiras de basquete. Com 54 pontos marcados em uma partida, Celestino Luciano Suursoo, pivô do Magic Hands, tem no maior jogador do Brasil sua grande fonte de inspiração. A admiração por Oscar ajuda Celestino a superar sua deficiência física: ele é um atleta em cadeira de rodas. O cestinha do Magic Hands é uma das 100 pessoas que praticam esporte com a ajuda da Associação Desportiva para Deficientes (ADD), entidade criada há quatro anos pelo professor Steven Dubner ? que desde 1980 dedica-se a promover atividades esportivas para deficientes físicos. O trabalho de Dubner ganhou um apoio de peso em setembro do ano passado. A Casio Service, divisão de prestação de serviços da Casio, assumiu o patrocínio do Magic Hands enviando mensalmente R$ 10 mil para a equipe. O acordo será renovado este ano. ?O apoio da empresa deu um novo ânimo às nossas atividades?, conta Dubner.

Mais do que manter um time de basquete, o projeto oferece uma nova oportunidade de vida a quem estava marginalizado. As dificuldades cotidianas de quem se move em cadeira de rodas acabam por abater o ânimo de qualquer um. ?A sociedade nos coloca o rótulo de incapazes?, afirma Fábio Souza, atleta do Magic Hands. O esporte resgata a confiança e a auto-estima dos deficientes físicos. ?A vida para mim começou depois da primeira cesta há quatro anos?, diz Souza, que hoje vende equipamentos de reabilitação. Ele não está sozinho em sua descoberta do prazer de viver. Alberto Santos Araújo, outro integrante da equipe, chegou a pensar em suicídio por não suportar sua condição de paraplégico. Hoje, com uma bola nas mãos ele esbanja alegria dentro da quadra, namora a nadadora e também deficiente física Monica Garcia e faz planos de casar.

O dinheiro dado pela Casio cobre todos os gastos da equipe, incluindo o mais importante: a compra das cadeiras de rodas de jogo. Elas são feitas em alumínio, ao contrário das tradicionais de ferro, e custam R$ 800. Dubner explica que as cadeiras são projetadas especialmente para cada atleta. ?São como cockpits de Fórmula 1?, compara. O outro parceiro do time é o Colégio Pueri Domus, que cede a quadra para os treinos, duas horas por dia, duas vezes por semana. ?Jogamos aqui porque o colégio quer ajudar na integração dos deficientes físicos com a sociedade?, explica Dubner. Com o apoio financeiro da empresa e um espaço adequado para treinar, o time melhorou o nível técnico e os resultados não demoraram a aparecer. Em fevereiro, o Magic Hands tornou-se a melhor equipe de basquete em cadeira de rodas da cidade de São Paulo, conquistando em seguida o vice-campeonato estadual. O bom desempenho do time chamou a atenção de outras entidades que se dedicam ao esporte com deficientes e veio o convite para jogar no Exterior. De 1º a 8 de agosto, o Magic Hands vai estar em Toronto, no Canadá, disputando o torneio International Spitfire Challenge 2000. O time da ADD vai jogar com equipes como Wheelchair Dallas Mavericks e Orlando Magic Wheels, ambos da NBA em cadeira de rodas. Enfim, a nata dos esportistas estará lá. O desafio não desanima o grupo. ?Vamos jogar para vencer?, diz o cestinha Celestino. Oscar, atual patrono da equipe ao lado de Magic Paula, estará na torcida.