O presidente turco Recep Tayyip Erdogan realiza neste sábado seus últimos comícios para convencer os eleitores a votar sim no domingo a uma reforma constitucional para expandir seus poderes.

Erdogan vai participar de quatro atos eleitorais e seu primeiro-ministro, Binali Yildirim, de cinco, todos eles em Istambul. O objetivo é convencer os muitos eleitores indecisos antes de um referendo cujo resultado é incerto.

“Se Deus quiser, amanhã à noite a Turquia estará em festa”, declarou Erdogan em seu primeiro comício deste sábado.

Nove meses após uma tentativa fracassada de golpe de Estado, os turcos vão votar no domingo a favor ou contra uma reforma constitucional que suprime o cargo de primeiro-ministro e concentra amplos poderes nas mãos do presidente turco.

O governo considera esta reforma essencial para garantir a estabilidade do país e para enfrentar os desafios econômicos e de segurança.

Por sua vez, a oposição critica um novo passo autoritário de Erdogan, que é acusado de tentar silenciar todas as vozes dissidentes, especialmente desde a tentativa de golpe de 15 de julho.

– Preocupação –

O governante Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, islâmico-conservador) defende a reforma ao lado da formação nacionalista MHP. Uma aliança necessária para Erdogan, mas frágil, uma vez que os nacionalistas estão divididos sobre a mudança constitucional.

O presidente e o primeiro-ministro tiveram que tranquilizar seus aliados nacionalistas depois que na sexta-feira o líder do MHP, Devlet Bahceli, acusou um assessor de Erdogan de sugerir que um sistema federal poderia ser criado no país após o referendo.

“Não há nada parecido a isto em nossa agenda”, garantiu Erdogan, enquanto Yildirim afirmou que iria apresentar a sua demissão imediatamente “se houver um só artigo [na reforma constitucional] que abra caminho para um Estado federal”.

Tal proposta seria um problema para os nacionalistas que acreditam na unidade indivisível da Turquia e temem a criação de uma região curda no sudeste do país.

Os analistas acreditam que o referendo dependerá em grande parte do eleitorado nacionalista, que se opõe a qualquer concessão aos curdos e que está preocupado com a possibilidade de Erdogan suavizar sua postura a este respeito após a votação de domingo.

– Segurança –

A segurança é uma questão chave para o referendo e as autoridades realizaram inúmeras prisões em círculos jihadistas nos últimos dias.

Cinco supostos membros do Estado Islâmico (EI), suspeitos de preparar um ataque de grande magnitude antes da votação, foram presos na sexta-feira em Istambul, três dias depois que a polícia prendeu 19 jihadistas em Izmir, no oeste do país.

Na última edição de sua revista Al Naba, o EI clama por ataques contra colégios eleitorais no domingo.

A Turquia tem sofrido nos últimos meses uma onda de ataques sem precedentes ligados ao grupo EI e aos rebeldes curdos. As autoridades mobilizaram 33.600 policiais em Istambul para garantir a segurança do referendo, de acordo com a agência pró-governo Anadolu.

Erdogan, de 63 anos, foi primeiro-ministro entre 2003 e 2014, antes de ser eleito presidente, um cargo protocolar na Turquia. Em caso de vitória do sim no referendo, ele poderia permanecer no poder até 2029.

A ONU acusou a Turquia de infringir o direito à educação e ao trabalho, assegurando que o governo demitiu 134.000 funcionários públicos desde o estabelecimento do estado de emergência após o golpe de julho.

O ministério das Relações Exteriores turco rejeitou as acusações.

A campanha terminará oficialmente neste sábado às 18H00 (12H00 de Brasília). As urnas serão abertas no domingo entre 07H00 e 08H00 (01H00 e 02h00 de Brasília).