O gás metano ganhou a atenção do mundo após mais de 100 países, incluindo o Brasil, aderirem ao Compromisso Global de Metano durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), que ocorreu na Escócia em novembro passado. O acordo prevê a redução de 30% em relação aos níveis de emissão do gás, considerado um dos mais potentes gases de efeito estufa, até o fim desta década.


O assunto foi debatido em profundidade durante o Fórum Metano na Pecuária, realizado nos dias 4 e 5 de maio em São Paulo. Promovido pela JBS, líder global em alimentos à base de proteína, em parceria com a Silvateam, produtora mundial de extratos vegetais utilizados na alimentação animal, o evento colocou luz nas discussões sobre as emissões de metano na cadeia bovina e das ações que podem ser adotadas para frear o aquecimento global.

Em termos globais, o Brasil responde apenas por 3% das emissões de metano na atmosfera. De acordo com Alexandre Berndt, pesquisador da Embrapa, desse montante, um terço vem da pecuária, em grande parte proveniente da fermentação entérica dos bovinos – o chamado arroto do boi.

O metano tem potencial de aquecimento 28 vezes maior do que o gás carbônico. Porém, é eliminado em um peíodo de 10 anos, o que já não acontece com o dióxido de carbono, que permanece estocado por mil anos, enfatizou.

Por conta disso, a redução da emissão de metano pode ser um importante aliado para frear o aumento da temperatura da Terra.

POPULAÇÃO DE DEZ BILHÕES DE PESSOAS ATÉ 2050

Frank Mitloehner, professor da UC Davis, na California, alertou sobre a importância de buscar alternativas para reduzir as emissões de metano, já que até 2050 a população mundial vai crescer para 10 bilhões de pessoas e não será possível atender essas demandas em termos produtivos, se nada for feito. “Por isso, é importante fazer o melhor uso da terra.”
Uma das soluções para alcançar esse feito com mais rapidez é investir em parcerias entre empresas e o Estado, segundo Peer Ederer, fundador e pesquisador do GOAL Sciences.
Um dos exemplos bem-sucedidos apresentados por Mitloehmer se desenvolve na California. O estado está fornecendo incentivos para a redução de emissões de metano nas fazendas de pecuária, como a construção de gestores anaeróbicos para a produção de biogás e, com isso, proporcionar a venda de créditos de carbono. “Em dois anos, a queda na emissão do gás chegou a 25%.”
Aimable Uwizeye, diretor de Política Pecuária da FAO (Food and Agriculture Organization), da ONU, enfatizou as iniciativas da Parceria LEAP (Livestock Environmental Assessment and Performance). Ao todo, 23 países participam da iniciativa e contam com a presença de 59 peritos internacionais que trabalham para mitigar as emissões de gases de efeito estufa. “Em relação à emissão de metano, é importante fazer a gestão de esterco, que é um dos pontos críticos em relação ao ciclo do gás.”

TECNOLOGIA
A tecnologia exerce um importante papel na mitigação dos gases de efeito estufa. Berndt, da Embrapa, destaca três pilares importantes na pecuária: a manipulação direta da fermentação, por meio da adição de aditivos e fornecimento de pastagens de melhor qualidade; aumento da eficiência produtiva, via melhoramento genético, da nutrição e reprodução; e remoção e compensação dos gases no solo.
“Se nós compensarmos os gases, usarmos aditivos e nos tornarmos eficientes, podemos vender crédito de carbono e fazer ainda mais parte da solução”, enfatiza.

ADITIVOS
Outro tema abordado durante o evento foi o papel dos aditivos na alimentação do gado para a redução de metano na pecuária. Quase a totalidade dos palestrantes defendeu a adoção desse tipo de tecnologia para mitigar o metano.
Um dos exemplos bem-sucedidos nesse sentido é o Bovaer, aditivo desenvolvido pela empresa Royal DSM. De acordo com Maik Kindermann, diretor de Inovação da empresa holandesa, há 52 experimentos realizados com o produto em 14 países. No Brasil, a JBS está aplicando comercialmente o Bovaer em um confinamento. Até o momento, já foi evitada a emissão equivalente a 2 milhões de toneladas de CO2 desde o primeiro experimento.
O produto é adicionado à alimentação do gado e faz efeito em cerca de 30 minutos. “O aditivo não influencia no desempenho da carne e nem do leite”, afirma Kindermann.
Nessa linha dos aditivos, os taninos também foram citados no Fórum Metano como uma possível solução de mitigação por Darren Henry, professor da Universidade da Geórgia. Nos testes, segundo ele, ao adicionar a substância no alimento dos animais, houve uma redução de 28% de emissão de metano de carne por quilo. “Os taninos têm potencial de aumentar a produção de carne e alterar a fermentação. Porém, ainda precisamos investir em mais estudos.”


AÇÕES MÚLTIPLAS NO BRASIL
“Temos tolerância zero ao desmatamento”, afirma Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS. A companhia tem o compromisso de tornar-se Net Zero até 2040, zerando o balanço líquido das emissões de gases de efeito estufa.
A JBS monitora 100% de seus fornecedores de bovinos por meio de imagens de satélite e dados georreferenciados das fazendas.
Com a Plataforma Pecuária Transparente, que usa tecnologia blockchain, a companhia está estendendo esse mesmo monitoramento para os fornecedores de seus fornecedores.
Desde o ano passado, a JBS também atua por meio dos Escritórios Verdes, que não apenas apoiam as fazendas na regularização ambiental, como também oferecem suporte e acesso facilitado ao crédito para que produtores possam elevar sua produtividade de forma mais sustentável e livre de desmatamento. Até o momento, mais de duas mil fazendas receberam apoio.