Em 2020, ano que começou difícil e se agravou com a pandemia, a indústria cimenteira cresceu 11% no Brasil. Há muito a comemorar. Mas as perspectivas para 2021 não nos autorizam a projetar desempenho próximo ao do ano passado. Diante de um cenário de incertezas em relação à economia do País, dois fatores são determinantes para a retomada do crescimento: sucesso da campanha de vacinação e aprovação das reformas tributária e administrativa.

Com o fim do auxílio emergencial, a redução do estoque de obras imobiliárias e o aumento do desemprego, da desconfiança do consumidor e de empresários, o setor cimenteiro projeta um crescimento em torno de apenas 1% em 2021.

O agravamento da pandemia dificulta o consumo das famílias. A elevação recente do número de casos e mortes pode gerar novas restrições de mobilidade urbana e isolamentos voluntários devido ao temor da ampliação da contaminação, o que mantém a insegurança acima do usual. Isso, somado ao repique inflacionário (cuja taxa pode chegar a 6% no acumulado em 12 meses em meados do primeiro semestre) deve prejudicar o crescimento da economia no começo do ano e, em particular, o consumo do cimento.

Pairam sérias dúvidas quanto à capacidade da retomada da atividade econômica para absorver o papel desempenhado pelo auxilio emergencial. Reflexo disso se traduz na recente queda de confiança dos consumidores e empreendedores apontada pela Fundação Getúlio Vargas, em dezembro de 2020.

“Com o fim do auxílio emergencial e o aumento do desemprego, o setor cimenteiro projeta crescer apenas 1% em 2021”

De acordo com estudos recentes da FGV, pelos consumidores o aumento da incerteza continua devido ao fim dos benefícios emergenciais, o desemprego em alta e, principalmente, em razão da percepção de escassez de trabalho. Segundo a pesquisa, 97,5% dos entrevistados avaliam ser difícil obter qualquer oportunidade no mercado de trabalho — o menor nível dos últimos 16 anos. Já a confiança dos empresários da construção em dezembro registrou um nível superior ao mesmo período de 2019, o que, considerando todas as dificuldades do ano, é um aspecto positivo. Por outro lado, as expectativas quanto ao futuro próximo continuam se deteriorando e os empresários estão mais pessimistas do que estavam no ano passado.

Na mesma direção, o número de lançamentos imobiliários apresentou uma redução de 28%, no acumulado do ano até setembro de 2020, número abaixo das projeções do setor da construção civil.

No tocante à indústria do cimento, o aumento dos custos de produção (com destaque para commodities) e o déficit fiscal que inibe a capacidade de indução do desenvolvimento da infraestrutura, vetor de consumo mais deprimido da atividade, agravam o cenário de incertezas. O setor cimenteiro é muito sensível ao cenário macroeconômico e aos estímulos governamentais. Por isso, é fundamental acelerarmos a agenda de aprovação das reformas, com destaque para a tributária e a administrativa, aliada à consolidação do novo programa habitacional Casa Verde e Amarela, da implementação de um programa vigoroso no campo de saneamento e, principalmente, ao sucesso da campanha de vacinação no combate à Covid-19.

Acima de tudo, nossa indústria assegura a continuidade do fornecimento regular e de qualidade do insumo em todas regiões do País, reforçando seu compromisso com a sociedade, sua integração aos agentes econômicos e nos esforços conjuntos com o governo a fim de superar a crise e assegurar a recuperação da economia nacional.

*Paulo Camillo Penna — Presidente do SNIC (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento) e da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)