Já fazia mais de três meses que a indústria frigorífica nacional não tinha uma semana com boas razões para comemorar como a que passou. A primeira partiu da JBS, que na segunda-feira (13) concluiu a aquisição da italiana King’s, tradicional empresa europeia de embutidos, por 82 milhões de euros. A compra é mais um passo na estratégia de fortalecimento das operações da companhia no Velho Continente e atesta o apetite do grupo em seguir crescendo globalmente.

O segundo motivo de festa veio da China, que na quarta-feira (15) voltou a importar carne bovina brasileira, depois de três meses de embargo. Desde que os chineses pararam de comprar carne bovina do Brasil, no dia 4 de setembro, por causa de dois casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), a doença da vaca louca, o setor vivia um climão de baixa nos preços e nas perspectivas. “Entre setembro e novembro, as exportações de carne bovina caíram pela metade”, disse César Castro, especialista em agropecuária do Itaú BBA. “Agora é esperar a retomada dos pedidos dos chineses e se preparar para atendê-los.”

Fica fácil entender o cenário desfavorável ao se olhar para os números dessa relação. Nossos maiores parceiros comerciais compraram quase metade da carne que o Brasil exportou no ano passado, o que rendeu mais de US$ 4 bilhões. Em 2021, mesmo com os embargos, as negociações já se aproximaram de US$ 3,9 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O especialista do Itaú BBA diz que a retomada ainda será gradativa, a recomposição do mercado não ocorre da noite para o dia.

Um problema que afeta menos as grandes indústrias, como JBS, Marfrig e Minerva Foods, que conseguem driblar melhor a situação porque têm mais musculatura e uma plataforma de negócios internacionais ampla. Vendem para muito mais países.

É dentro desse contexto que deve ser lida a compra do Grupo King’s pela JBS, realizada por meio da Rigamonti, a subsidiária da multinacional brasileira na Itália. Ao assumir o controle total do King’s, a JBS se torna dona de quatro fábricas no norte do país (duas em Parma, uma em Vicenza e outra em Udine), além de toda a operação dos italianos nos Estados Unidos, inclusive com uma unidade em Nova Jersey.

A estratégia de negócio é ampla. A meta é avançar em quase cada canto do planeta –nos Estados Unidos, na própria Itália e outros países da Europa Ocidental (principalmente Alemanha, França e Reino Unido), na Austrália e na Ásia (especialmente China e Japão).

NOVAS FRONTEIRAS Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, destaca aquisição de empresa italiana como trampolim para outras conquistas no mercado global. (Crédito:Anna Carolina Negri)

Para isso, a compra da empresa europeia traz outro diferencial: branding. Não importa o marketing que você construa em cima de produtos brasileiros de salumeria, porque um concorrente da Itália será praticamente imbatível.

Por esse motivo a expansão internacional passa pela aposta na tradição das marcas da companhia – King’s e Principe – e no reconhecido diferencial dos embutidos Prosciutto di San Daniele e Prosciutto di Parma, ambos com denominação de origem protegida (DOP). “Essa aquisição nos coloca entre os líderes da salumeria italiana e alavanca a estratégia comercial nos Estados Unidos”, afirmou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS.

Além do valor agregado à Rigamonti, pela incorporação de marcas históricas, a expectativa da JBS é que sua subsidiária cresça cerca de 60% após um ano de atuação já com o Grupo King’s. E essa operação ainda será referência para outro avanço no mapa-múndi. A líder global em proteína animal também está investindo US$ 200 milhões (R$ 1,14 bilhão) em uma nova fábrica de especialidades italianas da Swift Prepared Foods em Columbia, no Missouri (EUA).

A JBS move com correção as peças no tabuleiro. Não basta volume e escala. No jogo global é preciso também relevância e autoridade.