A Camil Alimentos vai fechar em fevereiro o ano fiscal de 2021 com faturamento na casa dos R$ 10 bilhões. Nada mal para a companhia que encerrou 2020 com R$ 8,5 bilhões de receita bruta e R$ 462,7 milhões de lucro líquido, alta de 93,1% em comparação ao período anterior. O resultado fez a companhia incrementar seu prato principal, formado por arroz, feijão, pescados e açúcar, com três aquisições recentes de empresas e marcas nas áreas de massas e café. Os investimentos giraram em torno de R$ 660 milhões. Para 2022, o apetite continua e a companhia pretende ir às compras para ampliar seus produtos na cadeia do trigo, farinha e biscoitos. “Mesmo com as aquisições, temos capacidade de alavancagem adicional de mais de R$ 1 bilhão para 2022”, afirmou à DINHEIRO Flavio Vargas, CFO e diretor de relações com investidores.

Ao apresentar os resultados do terceiro trimestre, Luciano Quartiero, diretor-presidente da Camil, disse que a empresa iniciava um novo ciclo, repleto de desafios. “Possuímos múltiplas oportunidades mapeadas de crescimento orgânico e inorgânico, com desenvolvimento de novos mercados e entrada em novas categorias”, afirmou em comunicado. A estratégia da Camil Alimentos — dona das marcas Camil, Cocinero, Coqueiro, Costeño, Da Barra, Namorado, Pescador, Saman, Tucapel e União — é permanecer líder nos segmentos de arroz (13,9% de marketshare nacional, segundo a Nielsen, no bimestre dezembro20/ janeiro21), açúcar (48%) e pescados (39,9% em sardinha e 23% em atum) e avançar em feijão (segunda colocada, com 8,9%).

Silvia Costanti

“Temos capacidade de alavancagem adicional de mais de R$ 1 bilhão para o ano que vem” Flavio Vargas, CFO Da Camil.

Em mercados tão pulverizados e sem grande variação de consumo ano a ano, o plano é também crescer de maneira inorgânica e em outros nichos. Sempre no campo da mercearia seca, que permite ao grupo potencializar o ciclo comercial de seus produtos, com utilização do mesma estrutura de distribuição e do trabalho agregado dos times de vendas, de repositores e de atendimento nas lojas. O CFO destaca que é diferencial para a empresa. “Isso nos dá um poder de fogo diferenciado”, afirmou Vargas.

Nessa perspectiva a Camil concluiu em agosto a compra da Pastifícios Santa Amália, por R$ 410 milhões, o que marcou sua entrada na categoria de massas. O tempero da transação fica por conta da atuação da Santa Amália em Minas Gerais, onde é líder no setor e vai contribuir para a Camil expandir em grãos nos 12 mil pontos de vendas da marca comprada. Outra aquisição importante foi da marca Seleto, de café, em setembro, por R$ 50 milhões. Essa compra vai demandar esforço maior da Camil, que terá de estruturar a produção e distribuição. Ainda nesse setor, a empresa pretende usar a marca União também para café. E até março colocar nas prateleiras desde uma linha premium até uma mainstream. “Para sermos relevante nesse mercado também”, disse o CFO.

O terceiro grande movimento da Camil neste ano não foi em terras tupiniquins. Envolveu a estratégia internacional da companhia, que pela primeira vez colocou os pés no Equador, ao comprar, em julho, a Dajahu Agroindustrias e a Transportes Ronaljavhu, do segmento de arroz, em negócio de US$ 36,5 milhões. No chamado “arroz envelhecido”, um produto premium, a Dajahu tem fatia de 20% no mercado equatoriano e de 7% de participação das vendas totais do grão no país. Vai agregar participação da Camil no mercado internacional, em que já opera em Uruguai, Peru e Chile. Do total do faturamento da companhia em 2020, 32% foram desses países. Lá fora, a receita da empresa vai ser a mesma: ganhar share no core e ampliar o portfólio com aquisições. “E ideia é continuar extrapolando e entrar em outros segmentos”, afirmou o executivo.

No Chile, o primeiro passo já foi dado. Mas a caminhada está em compasso de espera. A negociação para compra da unidade de negócios da Pet Food Iansa foi quase concluída no início de 2020, mas houve problema na produção de alguns itens que tiveram de ser retirados do mercado. Isso afetou a imagem da marca e o negócio foi paralisado. A efetivação para a entrada da Camil no mercado chileno de ração seca e úmida para cães e gatos, além de petiscos, será reavaliada no início do ano que vem. Certo é que o apetite da companhia é grande. E, a depender dela, será saciado.