A Cambuci, dona das marcas Penalty e Stadium, conseguiu virar o jogo durante a pandemia. Depois de anos de tentativas frustradas de melhorar os resultados operacionais, a empresa chegou muito perto da recuperação judicial em 2016, com uma dívida de R$ 137 milhões e alavancagem de 7,5 vezes (dívida líquida/Ebitda). Em vez de se deixar abater pelo placar, em 2017, a companhia partiu para o tudo ou nada com uma guinada na sua tática de jogo. Uma das apostas foi nacionalizar a produção, que à época estava concentrada no Paraguai e dependia de insumos importados da Ásia. Hoje, 90% das vendas da companhia vêm das três fábricas no Brasil, e a dependência de importação de matérias-primas é menor que 5%. A estratégia acabou, um ano depois, aliviando o peso da crise de 2020 (prejuízo de R$ 7,7 milhões) já revertido em 2021 (lucro de R$ 27,6 milhões, fruto de vendas 53% maiores). “A pandemia trouxe uma nova forma de enxergar a operação”, disse Roberto Estefano, presidente do conselho da Cambuci. “Seguiremos com equipes mais enxutas, foco na produtividade e na redução de estoques”.

O otimismo com a virada incentivou firmar a projeção de negócio no relatório administrativo pela primeira vez em anos: espera-se um crescimento de 40% para 2022. A volta das atividades e a competitividade que a Penalty alcançou no segmento — ante o encarecimento dos importados — imprimem essa segurança à gestão. Sócio majoritário da Cambuci S.A. e filho de um dos fundadores do grupo, que nasceu como malharia no bairro paulistano que leva no nome, Roberto Estefano é um dos responsáveis pelo renascimento da empresa. Ao lado do diretor-presidente Alexandre Schuler, esteve onipresente na operação nos últimos anos. Ele acredita que o sucesso reside na combinação da gestão pragmática de Schuler com o seu papel no relacionamento com investidores e no acompanhamento da agenda de inovação. “Não dá para abandonar completamente a companhia”, afirmou Estefano, com base na experiência que teve entre 2013 e 2016, quando subiu para o conselho e ficou afastado desse dia a dia.

90% das vendas da empresa vêm das três fábricas no brasil. a importação representa menos que 5% da demanda

A redução dos estoques é um dos grandes trunfos da dupla Schuler-Estefano, e a que o presidente do conselho atribui a melhora do caixa. Para ele, os riscos de acumular produtos de baixo giro e baixa rentabilidade é grande, por isso reduziram em 30% as unidades em estoque. “Trocamos produtos acabados por matérias-primas”, disse. A variação do estoque de insumos foi de 13% em um ano, mas, para os materiais mais sujeitos a flutuações de mercado, como os fios de náilon e de poliéster (derivados do petróleo), as reservas chegaram a triplicar. Ainda assim, Estefano reconhece que não há solução para a alta generalizada dos custos. “Mesmo com toda essa otimização, precisamos subir os preços em 10%”, afirmou.

Depois de quase perder a companhia, o executivo é obsessivo por margens e controle de despesas. Após lançamento de debêntures de R$ 50 milhões em fevereiro para renegociar as dívidas de curto prazo (em R$ 62,5 milhões ao fim de 2021), a meta de Estefano para 2022 é baixar a alavancagem de duas vezes o Ebitda (no ano passado) para 1,5. Para isso, mobilizou fornecedores e trabalhou no desenvolvimento de matérias-primas. Esses investimentos já renderam, por exemplo, a primeira bola de futebol feita de materiais sustentáveis com reconhecimento da Fifa. “A demanda veio de dentro para fora, mas acreditamos que será o futuro desse mercado.”

INOVAÇÃO O segmento esportivo está cada vez mais especializado, mas Estefano lembra que as tecnologias precisam caber no bolso — e é aí que a Penalty se diferencia frente Adidas, Nike ou Puma. Apesar de acompanhar os lançamentos das rivais, o foco da inovação na companhia está na fabricação das bolas de futebol, nicho em que compete com apenas mais duas fábricas, ambas no Japão. “Essa produção tem alta barreira de entrada e garante nossa presença no mundo do futebol”, disse o executivo.

Já para a linha premium, a empresa aposta nos produtos de beach tennis, totalmente importados, com tecnologias inéditas. As novas raquetes chegam no segundo semestre e são voltadas para a performance profissional, já que o esporte se popularizou no País. Estefano aponta a inovação como o coração do mercado, em que briga com grandes concorrentes, mas defende que, na Cambuci, “trocamos tamanho por agilidade.”