Empenhados em recuperar a imagem da carne produzida no Brasil nos países árabes após a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, representantes da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira cumprirão, juntamente com membros do governo brasileiro, uma intensa agenda no exterior nos próximos meses. Já acertaram para o início de maio, provavelmente dia 10, uma visita do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, aos Emirados Árabes e Arábia Saudita. Antes disso, irão com o secretário executivo do ministério brasileiro, Eumar Novacki, a Argélia, Egito e Marrocos, entre os dias 16 e 25 de abril.

Em terras brasileiras, a iniciativa começa já nesta segunda-feira, 3, quando a Câmara Árabe-Brasileira receberá, como consequência da Operação Carne Fraca, uma comitiva de oito membros da Autoridade Saudita para Alimentação e Medicamentos (SFDA, na sigla em inglês). Este grupo visitará 41 frigoríficos, em diversos Estados do País, durante dez dias. “(Esse trabalho) É importante para o Brasil, mas também é muito importante para os países árabes. Não poderíamos deixar um vácuo de informações”, afirmou o presidente da Câmara, Rubens Hannun, ao Broadcast Agro, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Além das missões recíprocas, a entidade prepara também uma campanha de marketing sobre o produto brasileiro nos países árabes e uma pesquisa entre os consumidores para analisar o real efeito da operação da PF à imagem do produto no bloco árabe. “Precisamos entender e agir no intangível, que é difícil controlar. Do contrário, a normalidade pode voltar só de forma aparente, mas ser comprometida ao longo prazo”, disse Hannun.

Conforme dados apresentados pela Câmara Árabe, com base em levantamentos do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), os países árabes foram responsáveis por 30% do faturamento do Brasil, ou US$ 3,5 bilhões, com as exportações de carnes de frango e bovina em 2016.

Na Arábia Saudita, o principal importador da carne de frango do País, o Brasil detém 75% de market share. Nos Emirados Árabes, a fatia é de 66% e, no Egito, 67%. Ou seja, são nações altamente dependentes da proteína brasileira. A carne vendida para os países árabes é halal – segue preceitos da religião muçulmana para o abate dos animais, o que garante maior valor agregado ao produto. O Brasil, aliás, é reconhecido mundialmente por essa certificação. “Os países árabes conferem ao Brasil uma forte responsabilidade na sua segurança alimentar. Antes da operação, essa relação vinha muito bem e a imagem do produto brasileiro é excelente”, disse Hannun.

Após a operação da Polícia Federal, entre os países árabes, Argélia e Bahrein suspenderam totalmente as compras do Brasil. Arábia Saudita, Marrocos, Emirados Árabe e Catar fizeram e ainda mantêm bloqueios parciais. Já Kuwait, Jordânia e Egito derrubaram restrições, após receberem explicações oficiais.

Tendo em vista a relação comercial entre o bloco e o Brasil, a Câmara Árabe-Brasileira montou uma gestão de crise desde a deflagração da operação. “Já no domingo (19), montamos um comitê especial e tomamos algumas decisões juntamente com o ministério”, afirmou Hannun. Segundo o representante, os países árabes solicitaram muitas informações. “É possível garantir a qualidade sanitária ou não? O que de fato aconteceu? Foi generalizado ou localizado?”, exemplificou. O representante afirmou que a Câmara passou até a traduzir para o árabe os dados divulgados pela Agricultura e a encaminhar o material para as embaixadas e governos.

Na semana que sucedeu o acontecimento, empresários do Egito vieram ao Brasil para negociar um contrato de compra de carnes. A visita já estava agendada antes da operação e a Carne Fraca ameaçou a paralisar a tramitação. No entanto, Hannun afirmou que o pronto esclarecimento garantiu um acordo de fornecimento de 21 mil toneladas por mês de carne de frango e boi. Hannun não especificou o volume de cada proteína.