Suécia e Alemanha parecem a nossos ouvidos Estados preocupados com o chamado bem-estar social e altamente evoluídos economicamente. E são.
1. PIB per capita de cada um: Suécia (US$ 51.925), Alemanha (US$ 45.723), Brasil (US$ 6.796).
2. Desemprego: Suécia (8,8%), Alemanha (5,5%), Brasil (14,1%).
3. Inflação anual fechada em agosto: Suécia (2,53%), Alemanha (3,39%), Brasil (9,68%).
4. Analfabetismo na população acima de 15 anos: Suécia (insignificante), Alemanha (insignificante), Brasil (11 milhões, maior que a população da Suécia).
5. População adulta totalmente vacinada: Suécia (64,3%), Alemanha (63,7%), Brasil (41,6%).
6. Ranking mundial da felicidade: Suécia (7º), Alemanha (17º), Brasil (32º).
7. População carcerária para cada 100 mil habitantes: Suécia (68), Alemanha (70), Brasil (381).
8. Índice Gini: Suécia (25º), Alemanha (36º), Brasil (159º).
…As coisas são o que são.

E números costumam mostrar como as coisas são.

Pegue o item que quiser. Perderemos. E não apenas deles dois. Esse é o retrato de nossa mediocridade como nação. Isso ocorre porque há um bom Estado lá, e um péssimo Estado cá. Simples assim. Sabe quanto custa para os suecos essa estrutura: 12,7% do PIB. Para os alemães, menos: 7,5%. E para a brazucaiada? Mais que nos dois países: 13,4% do PIB — porcentual de gastos com funcionalismo público ativo e inativo em todas as esferas (federal, estadual e municipal), segundo levantamento com dados do FMI feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em seu Boletim 15 (2020). Aí vem a pergunta que qualquer juvenil faria: “Como podemos gastar tanto e sermos tão deprimentes?” Porque no Brasil a palavra liberalismo virou xingamento. Aliás, tão esvaziado de sentido quanto chamar alguém de comunista.

Temos um problema semântico…

Gente letrada. Gente preocupada com nossos quase intransponíveis problemas sociais e de desigualdade. Gente que professa e atua por uma sociedade mais justa. Boa parte do funcionalismo público… Todos esses segmentos agem no nível da barbárie intelectual ao estigmatizar qualquer um que fale em Estado menor. “Um liberal!”. Ou (ohhhh!), o xingamento máximo: “Neoliberal”.

Defender que o funcionalismo passe a ser verdadeiramente avaliado e demitir? “Jamais.” Mudar o porcentual fixo de dinheiro para saúde ou educação? “Jamais.” Acabar com isenções para segmentos da indústria? Abrir mercado? Privatizar? “Jamais, jamais, jamais.” A obtusidade é tão grande que eles deixam de enxergar que o dinheiro da educação fortalece a desigualdade. Porque não é bem gasto. Vai para o topo e não para a base. “Ah, mas tal universidade já tem 50% de estudantes da escola pública.” Ponto 1: deveria ter 87%, o porcentual da galera que está no ensino médio em escolas públicas. Ponto 2: em que cursos estão essas pessoas? Nas carreiras que remuneram bem, têm mercado, ou nas que não? Esquecem editais viciados para compras superfaturadas. Esquecem que um Estado enxuto não significa reduzir o ganho esgarçado de policiais ou professores. Significaria mexer no topo que ultrapassa teto.

Os antiliberais e boa parte do funcionalismo parecem esquecer a lista de regalias para servidores de estatais. Regalias que nenhum trabalhador CLT ou informal terá na vida. Que nenhum funcionário público da base terá na vida. Ao agir assim viram massa de manobra da verdadeira elite dos servidores. E se comportam como se todos tivessem salários de um ministro do STF, ou os vencimentos mensais acima de seis dígitos da turma militar que cerca Bolsonaro. Mais auxílios moradia, paletó… et al. Gritam pelo que já perderam para defender aqueles que nunca perdem.

E a culpa é do liberalismo… Só que não.

Talvez a origem disso esteja no fato de o Brasil ser o único lugar do planeta em que tanto a direita quanto a esquerda querem um Estado maior. Para mamar nele. Aqui tudo precisa ser lido no espelho. O Partido Liberal comanda toda a diretoria do estatal Banco do Nordeste e nem de perto quer se livrar da boquinha. Vá explicar a Friedrich Hayek que o PL faz isso. Ele ressuscita, mata todo mundo e volta a morrer. De desgosto. Enquanto não entendermos que o liberalismo defende princípios que estão na base dos direitos humanos, da tolerância, do direito à união entre pessoas do mesmo gênero, de uma sociedade mais justa, do secularismo e de tudo o que é civilidade, o Brasil vai chafurdar no lodo. O antônimo perfeito de um liberal é Jair Bolsonaro. Dizendo assim dá para entender por que chamar alguém de liberal não pode ser xingamento.

Edson Rossi é redator-chefe da DINHEIRO.