O café brasileiro entornou. Desde que o governo adotou a política de retenção, em junho do ano passado, a cotação do café na Bolsa de Nova York não parou de cair. Estava, na semana passada, em US$ 0,47 por libra-peso no preço indicativo da Organização Internacional do Café, mas já foi de US$ 1 doze meses atrás. Enquanto a principal commodity brasileira despencou, outra má notícia atingiu o setor: o Vietnã, que em 1990 produzia um milhão de sacas por ano, pulou, com 12 milhões, para o segundo lugar no ranking mundial, à frente da Colômbia. ?A política de retenção é um desastre conceitual e uma catástrofe operacional?, afirma Luiz Hafers, presidente da Sociedade Rural Brasileira.

O governo, no entanto, vai aumentar a aposta na retenção. ?Essa política evitou uma queda de preços ainda mais violenta?, disse o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, na quarta-feira, 10, ao admitir a ampliação do programa. Da última vez que houve uma política oficial de retenção de exportações, em 1993, levou apenas um ano para o preço se recuperar. Na época, o governo queria elevar a cotação para US$ 0,75 por libra-peso e ela chegou a US$ 0,85. Todos os grandes países produtores, então, aderiram ao pacto. A situação, agora, é completamente diferente. A oferta do produto cresce, em média, 5% ao ano, contra uma demanda que avança 2%. Com o apetite por mercado demonstrado pelo Vietnã e seus vizinhos asiáticos, e o inconformismo da Colômbia pela perda do segundo lugar, a unidade pode já ter sido rompida. No próximo dia 24, em Londres, haverá uma reunião da Associação dos Países Produtores de Café (APPC). Não se sabe ao certo se todos estão cumprindo o acordo acertado anteriormente. As medições da produção de cada um serão anunciadas no encontro. O Brasil acumula em seus armazéns 1,9 milhão de sacas que deixaram de ser exportadas. A intenção é que, em dois anos, o preço suba para US$ 0,95. ?Não teríamos mais receita cambial sem retenção?, afirma o diretor-geral da APPC, Robério Silva. ?A diferença em volume seria ofuscada por uma queda ainda maior nos preços.?

O mercado de café já está acostumado com a oscilação de valores. Mas o piso fica cada vez mais baixo. ?Muitos produtores trabalham pensando na cotação de US$ 0,40 para os próximos cinco anos?, afirma o cafeicultor Guilherme Noronha, de São João da Boa Vista (SP). Ainda assim, quem tem condições de colher 40 sacas por hectare, como os grandes cafeicultores, consegue ter lucros. Os pequenos é que têm medo. ?A situação está feia. Se eu tiver lucro zero este ano será muito?, diz Claudinei Junqueira, de Divinolândia, interior de Minas.

Mesmo que dê certo, a retenção está longe de resolver o problema do setor. ?O tempo das commodities passou?, diz o exportador Manoel Corrêa do Lago. ?A saída é agregar valor, vendendo café industrializado.? Outra questão fundamental é aumentar o consumo. O problema é que essa idéia só é ressuscitada em tempos difíceis, quando ninguém quer pagar a conta do marketing.