No dia 14 de agosto, uma segunda-feira, Neusa Alves Pereira dará um dos passos mais importantes em 37 anos de vida. Ela vai assinar sua admissão em uma fábrica de impressoras de Curitiba, para trabalhar como técnica em eletrônica. Até aí nada demais se não fosse por um detalhe: Neusa aprendeu seu ofício na cadeia. Ela é uma das 22 mulheres da Penitenciária Feminina do Paraná que trabalham na linha de montagem de impressoras eletrônicas que a Bematech instalou dentro do presídio. O projeto começou em novembro de 1997 e representa para a empresa um investimento mensal de R$ 3 mil. Todas as mulheres são submetidas a treinamento constante. O objetivo é ensinar às presidiárias uma profissão e garantir a elas um emprego regular fora da prisão. Neusa é a primeira funcionária/detenta que vai sair. Sua pena de quatro anos, por tráfico de droga, estará cumprida no final da primeira quinzena de agosto. Ao contrário dos milhares de detentos que são soltos sem destino, ela terá uma oportunidade real de recomeçar a vida.

A vaga de Neusa na Bematech não foi garantida por um ato de caridade dos donos da empresa. O que contou foi a eficiência mostrada por ela no trabalho. Neusa e as demais ?funcionárias? alcançam um nível de produtividade que nada deixa a dever às melhores linhas de montagem de componentes eletrônicos da Bematech. ?A qualidade dos componentes é a mesma da fábrica fora do presídio?, avalia Marcel Malczewski, diretor de Marketing da empresa. Por dia, são produzidos 200 conjuntos eletrônicos, usados nas impressoras de recibo de cartão de crédito vendidas pela empresa. A lei garante às presidiárias a redução de pena de um dia a cada três trabalhados. Além disso, elas recebem R$ 122,50, o salário mais alto entre todas as detentas da penitenciária feminina. A Bematech não está sozinha no presídio.

Lorenzetti e Paraná Esporte também mantêm programas semelhantes pagando por mês às suas funcionárias menos de R$ 100. As três empresas garantem emprego e formação profissional para 102 das 150 presidiárias, o que significa que ainda há espaço para a instalação de mais oficinas de produção no presídio. Segundo a Secretaria da Justiça e da Cidadania do Paraná, falta às empresas romper o preconceito de utilizar o trabalho carcerário, criando chances aos presos de reintegração à sociedade. Uma barreira que as 22 funcionárias da Bematech estão ajudando a derrubar.