ELES FORAM OS PRIMEIros a abandonar o barco. Diante da fragilidade externa, nem mesmo o Brasil, ineditamente considerado porto-seguro, escapou da debandada de investimentos estrangeiros. No mercado acionário, somente entre junho e agosto, o fluxo negativo da movimentação internacional chegou a R$ 17,2 bilhões. Em 2008, mesmo com a onda do grau de investimento, a BM&FBovespa perdeu R$16,6 bilhões em aplicações de outros países. O volume diário caiu nos mercados de ações e o número de contratos recuou nas commodities. O petróleo praticamente voltando ao patamar de US$ 100 dólares o barril é sinal de que os especuladores nesse mercado puseram o pé no freio.

BOLSAS DE ACÕES E DE COMMODITIES, COMO A BM&F, PERDERAM O ÍMPETO

As razões para a retirada estratégica são muitas. A mais popular entre elas é a tal “aversão ao risco”. “Eles estão com medo. Há um ambiente de muita incerteza onde é difícil se ter convicção do que está por vir. E isso faz os especuladores se retraírem”, explica Felipe Cruz, gestor da Argúcia Capital Management. Outra explicação recorrente é a busca por liquidez. Investidores buscaram estancar suas perdas em outros mercados realizando seus investimentos onde há excesso de liquidez. Ou seja, países emergentes. O desaquecimento das economias desenvolvidas entra na lista de razões que espantaram os ávidos perseguidores de lucros. “Os EUA estão consumindo menos. A China, por exemplo, construiu incessantemente para a Olimpíada. Isso acabou, e agora?”, questiona César Canali, da corretora MF Global.

Títulos do tesouro americano, da União Européia e CDs (títulos de investimento em direito creditório) são os principais destinos dos especuladores em fuga. Segundo a Merrill Lynch, os U.S. Treasuries renderam 2,4% de 1º de julho ao final de agosto. Investir em renda fixa pode parecer chato para aqueles que estão acostumados com o perigo. Mas, ao que parece, chatice significa sobrevivência em tempos de alta volatilidade.

Quanto ao investidor brasileiro amedrontado, manter a calma é o melhor remédio. “Muitas pessoas enxergam desaceleração e um cenário ruim para o crédito. Nós vemos oportunidades”, diz Felipe Cunha. Ele explica que, para o investidor de longo prazo, o momento é ideal para buscar boas empresas a preços razoáveis. “Fundos de renda fixa e CDI são bons para quem não quer tomar riscos. Mas existem companhias com fundamentos fortes e que hoje são boas opções para o longo prazo. E é nelas que o investidor deve ficar de olho.”