Deixar de produzir commodity para construir uma marca de alto valor agregado. Essa foi a ideia da família Weber, que produzia cachaça em Ivoti (RS), quando se viu impedida de comercializar seu rótulo mais conhecido, a Caninha Primavera, cuja marca havia sido registrada por outro produtor.

Em vez de brigar na Justiça para seguir fazendo o mesmo que a concorrência, a família que se estabeleceu no Brasil vinda da Alemanha decidiu colocar seu sobrenome no rótulo. E, com ele, criar um novo mercado para a cachaça artesanal de qualidade.

O ano era 1999. Desde então, o nome Weber Haus se consolidou como sinônimo de excelência entre os apreciadores da bebida, tanto no Brasil como no exterior. Mas não foi só isso. A empresa criou um novo mercado para quem quer investir em bebidas e lucrar com a valorização dos ativos. “Em 2013 lançamos um lote limitado, envelhecido 12 anos, por R$ 701 a garrafa. Hoje, quem compra essa mesma cachaça na fábrica paga R$ 2,9 mil”, disse à DINHEIRO Evandro Weber, hoje à frente da empresa. Fora da loja oficial da Weber Haus há quem comercialize cada garrafa daquele lote por R$ 3,6 mil.

A valorização acumulada, nesse caso, é de 414% em nove anos — 20% ano sobre ano. Parece muito? Há outro caso ainda mais surpreendente. Lançada em 18 de novembro de 2021, em comemoração aos 21 anos da destilaria, a Weber Haus Diamant 21 Years Old, na versão que leva um diamante encrustado na garrafa, custava R$ 9.948.

Passados poucos meses, ela já é comercializada por R$ 12.948 na loja— e passa de R$ 15 mil em alguns sites. Em leilão, uma garrafa já foi arrematada por mais de R$ 60 mil.

EMBALAGEM DE LUXO A caixa da versão envelhecida 21 anos, que pode vir com um diamante. Na loja da fábrica (à esq.), é vendida por R$ 12.948 (Crédito:Divulgação)

Entender esses números exige olhar para os diversos fatores que se somaram até torná-los possíveis. De um lado, está a formação de um público especializado que, assim como ocorre no vinho e na cerveja, vem se informando mais por meio de cursos, degustações e confrarias. “Nos últimos anos, tem havido um entendimento maior do consumidor sobre as características da bebida”, afirmou o fundador da Cachaçaria Nacional, Rafael Araújo.

Criada em 2010, essa plataforma pioneira na comercialização de cachaça pela internet oferece informações detalhadas, vídeos e um clube pelo qual já passaram 6 mil clientes em cinco anos, dos quais 1,2 mil seguem ativos. São pessoas que buscam comprar e também aprender sobre tempo de envelhecimento, a madeira usada, de que forma ela aporta riqueza sensorial à cachaça. “Ao conhecer tudo isso, o consumidor passou a valorizar a cachaça e pagar mais por ela”, disse Araújo. Do outro lado, o mercado se organizou em feiras e congressos setoriais, passou a dar um acabamento melhor aos produtos, com garrafas e rótulos que transmitem percepção de valor. “A cachaça é uma bebida destilada de cana-de-açúcar, um dos itens de mais intenso cultivo no Brasil. Só que essa matéria-prima também pode originar produtos premium, como são o conhaque francês, o uísque escocês, a tequila mexicana”, afirmou Weber. “Nossa ideia é mostrar isso para o mundo”.

O CABELO DE PELÉ É o que vem ocorrendo. Há churrascarias nos Estados Unidos que vendem uma dose da Weber Haus por US$ 160. Na Inglaterra, um único cliente comprou 50 garrafas como investimento. Existe um mercado de bebidas que se enquadra nos chamados ativos alternativos, que incluem obras de arte, vinhos, charutos e outros itens para colecionador. “A valorização é garantida”, afirmou Weber.

Uma das maneiras que ele encontrou para chamar a atenção de seus produtos nasceu de uma jogada do craque Pelé. Em 2011, em parceria com um produtor de diamantes sintéticos, o eterno camisa 10 da seleção forneceu a matéria-prima para a confecção de 1.283 diamantes, correspondentes aos gols que marcou. A matéria-prima? Fios de cabelo do jogador, acumulados por dois anos. Ao acompanhar essa notícia pela TV, Weber decidiu procurar o mesmo lapidador e encomendou diamantes certificados pelo Serviço Geológico do Brasil, ligado ao Ministério de Minas e Energia.

É evidente que as pedras preciosas elevam o valor de cada garrafa, mas nem tanto. O preço inicial da Weber Haus envelhecida 21 anos é R$ 8.948. Sem diamante. Quem fizer questão da “joia” paga R$ 4 mil a mais. Acompanha cada caixa um livro e uma roda de aromas, para estimular a percepção sensorial. A escolha do 48 combina numerologia e um pouco da história da família Weber. Foi no Lote 48, em Ivoti (cidade que apertencia ao município de São Leopoldo) que a primeira geração estabelecida no Brasil começou a fazer cachaça. Está lá até hoje, agora exportando para cinco países.