A prisão de Sven Jaschan, o alemão de 18 anos acusado de criar o vírus de computador Sasser, fez nascer um novo paradigma na caçada internacional contra os criminosos digitais. O Sasser infectou mais de 1 milhão de PCs, gerou prejuízos de U$ 18 bilhões e provocou estragos intangíveis no mundo corporativo. A procura pelo responsável levou sete dias e envolveu a Interpol, a Central de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA, e a Polícia Federal americana, o FBI. Jaschan, preso há duas semanas, é um estudante de Computação, bom filho, garoto tímido que pode ser condenado há cinco anos por sua aventura na internet. Sua captura foi a conjunção de duas situações: a investigação policial e também uma recompensa oferecida pela Microsoft. Pela informação que levou os policiais até o criador do Sasser, o informante ganhou US$ 250 mil de um fundo de US$ 5 milhões que a empresa de Bill Gates reservou para este tipo de ação.

 

Esta estratégia está sendo cada vez mais adotada pelas empresas de tecnologia atingidas por ataques de hackers ou de pragas digitais como os vírus. No início do ano, a americana SCO ofereceu US$ 250 mil por alguma informação sobre o criador do MyDoom, outro vírus responsável por um prejuízo de US$ 22 bilhões. Na mesma época, a Microsoft já havia proposto outros US$ 250 mil para capturar o hacker. ?Este fundo é um esforço contra a impunidade virtual?, afirma Anna Carolina Aranha, gerente de estratégia de Segurança da Microsoft Brasil. Fazer um vírus se tornou algo tão comum que qualquer pessoa com um conhecimento médio de tecnologia consegue produzir uma dessas pragas. Há nove anos foram registrados 2.400 vírus espalhados na rede. Em 2002 foram
80 mil e para este ano se espera um número bem maior. ?O problema vai aumentar porque quanto mais a internet crescer mais vírus existirão?, afirma Mauro Marcelo Lins e Silva, delegado e professor
de crimes de alta tecnologia da Academia de Polícia de São Paulo. A rede tem hoje 970 milhões de pessoas no mundo, incluindo os 12 milhões de brasileiros.

Há indícios que colocam o criador do Sasser como o responsável também pelo Netsky, outro vírus com o mesmo poder. Há muitas teorias em torno de Sven Jaschan. Uma delas justifica sua atitude criminosa como uma tentativa de ajudar os negócios da mãe, dona
de uma empresa de consertos de computadores na cidade do interior da Alemanha onde a família mora. Impulsionado por esta razão ou qualquer outra, o jovem alemão pode se tornar o primeiro exemplo
de uma nova era na tecnologia. Além de ir para cadeia, Jaschan
está na mira da British Airways, da União Européia, da Guarda
Costeira Britânica, dos Correios de Taiwan entre muitas outras empresas pelos quatro continentes. Com os ?cibercops? no encalço, um tímido estudante de computação vai pensar duas vezes
antes de provocar um estrago global.

MITNICK, A LENDA
Hacker ficou cinco anos preso
Kevin Mitnick ganha dinheiro hoje prestando consultoria na área de segurança de tecnologia. No passado ele foi um dos mais procurados criminosos da internet. Durante três anos, a polícia americana tentou prendê-lo por fraudes on-line. A sorte acabou em 1995. Mitnick, que se tornou uma lenda na rede, ganhou liberdade condicional em janeiro de 2000 e continuou por mais três anos proibido de tocar em um computador ou telefone celular. Suas façanhas inspiraram o filme Takedown. Atualmente, ele escreve livros, profere palestras e presta consultoria sobre segurança de sistemas.