Fazia uma daquelas manhãs fortemente ensolaradas, comuns na primavera de Roma. E mesmo ali, no alto da milenar edificação do Palácio Colonna, por trás das paredes de meio metro de espessura de tijolo, entre esculturas, quadros e afrescos que adornavam o ambiente renascentista, dava para notar o clima quente. Eram 7h30 da segunda-feira 19 passada e uma fervilhante rodada de transações estava ainda por começar. O que pouca gente sabia é que, dali a momentos, naquele mesmo cenário, George Bush, o pai, se depararia com uma bala de canhão, lançada a menos de dois metros de sua posição, nas escadarias de mármore travertino, às costas da cadeira de onde discursaria para uma platéia de mais de 300 empresários ? a maioria dos quais entre os mais ricos do planeta, gente do naipe dos ingleses Rothschild e dos italianos Agnelli. A bala chegou a provocar um estrago imperdoável na arquitetura local. Mas espera aí! Bush e uma bomba? Antes que alguém pense tratar-se de mais um ataque terrorista ? afinal, nunca se sabe, nesses tempos belicosos ? é bom que se diga que nem os seguranças notaram o artefato, tampouco Bush se abalou. Afinal a bala de canhão havia tomado sua rota no Grande Salão dos Colonna fazia mais de um século. Caiu ali por ocasião dos confrontos de simpatizantes da República com a realeza destituída, ainda em fins do século XIX ? e ficou lá até hoje. Bush, naquela segunda-feira de aurora primaveril, poderia observá-la como a um pitoresco adereço do monumental salão, plantada no mesmo batente onde bateu gerações atrás.

Outra suposta ameaça estaria naquele mesmo dia, no mesmo local, lançada à frente de Bush pai. Um iraquiano, de nome Nemir Kirdar, foi ao encontro com objetivo específico: falar do seu país, recém-bombardeado pelos americanos. O tom da breve tratativa entre Kirdar e Bush ? ao contrário do que poderia se imaginar ? foi branda, amigável até. Kirdar está em busca de idéias para a reconstrução do Iraque. Ele mesmo vai criar um fundo e colocar recursos próprios do seu banco, o poderoso Investicorp, que administra mais de US$ 1,7 bilhão em recursos. Kirdar é figurinha conhecida do ?grand monde?. Foi dono de algumas das marcas mais cintilantes do planeta ? Saks, Gucci, Tiffany?s, Louis Vuitton ?, trabalhou com os Rockefeller no Chase Manhattan, emprestou iates ao príncipe Charles para escapadas com a amante Camila Bowles e freqüenta a casa de Alan Greenspan (do BC americano), sem cerimônia. O tête-à-tête com Bush naquela manhã era mais uma das façanhas do brasileiro Mário Garnero, o anfitrião do dia, em meio à convenção anual do Brasilinvest, o seu banco de negócios com uma constelação de 22 conselheiros renomados e investimentos de U$ 3 bilhões com
parceiros dos cinco continentes.

Uma bala de canhão caiu a poucos metros de onde estava Bush pai. O alvo era a realeza, ninguém notou

Foi o encontro de conselheiros do Brasilinvest ? com nomes como o de William Cohen, ex-secretário de Defesa dos EUA, o sheik Salman Bin Khalifa e o magnata russo Oleg Deripaska, dono de 11% da produção mundial de alumínio ? que agitou Roma há algumas semanas. A coisa toda fora cuidadosamente planejada pelo Brasilinvest para deixar a todos boquiabertos. A sala de reuniões do Palácio Colonna dava para o leste, numa posição perfeita para uma vista panorâmica, de modo que das sacadas era possível contemplar o majestoso monumento a Vittorio Emanuelle II, a arena do Coliseu, a Coluna de Trajano com seus feitos e batalhas, o janelão de onde Mussolini inflamava as massas. Lá estavam os cafés, a Piazza Veneza, o Pantheon e, do outro lado, mais ao fundo, a boca da verdade (La Bocca della Verittà) numa igrejinha ridiculamente solitária ? de pouco mais de mil e quatrocentos anos ? espetada naquele oceano de história. A loucura de Garnero! Ele tinha de encantar os barões das finanças com eventos solenes. Senão, não seria Garnero. Dali a mais alguns anos, a exemplo do que ocorreu com o World Economic Forum no campo dos debates econômicos, alguém vai ganhar muito dinheiro patrocinando a convenção de Garnero, sob o guarda-chuva da ONG Fórum das Américas, e seus negócios cotados em cifras estelares. ?Não sei como isso cresceu tanto?, surpreende-se ele mesmo. Na verdade, Garnero entendia muito bem. Tudo estava em alta no seu Fórum das Américas. Negócios eram sacados às dúzias, e em vários ramos. Um videofone celular, da Nancy Technology, dirigida pela japonesa Noriko Kajiki, era apresentado como a mais fulgurante novidade dos últimos tempos. O aparelho transmite som e imagem em ?real time?, já está sendo usado por três milhões de conterrâneos de Noriko e deve desembarcar na Tailândia e China nos próximos meses. Chega ao Brasil ainda este ano com a intermediação do Brasilinvest, numa joint-venture em formação. Motorola deve fechar um acordo de transferência de tecnologia do videocelular, Samsung está sendo procurada com o mesmo intuito e a engenhoca pode estar sendo comercializada por aqui por meros US$ 150, acredita Noriko. A reviravolta do aparelho é tal que recentemente o ?big shot? da informática, Bill Gates, teria oferecido US$ 3 bilhões pela empresa de Noriko. Ela recusou.

Nos últimos tempos, todo mundo quis bancar o mecenas das boas idéias, financiando ou comprando por preços indecentes negócios promissores. Mas Noriko está decidida a seguir sozinha. Teme misturar seu invento com os frágeis lampejos da internet. Na área tecnológica, Wall Street está castigando as empresas que esvaziaram seus cofres depois de ter incentivado o setor a torrar o dinheiro arrecadado com o lançamento de ações. ?Nós vamos dar um passo de cada vez?, diz a japonesa. Já as carpideiras do capital de risco têm razão de entrar em campo neste momento atrás de oportunidades. Que o diga o americano Jeffrey Epstein. Para quem ainda não foi apresentado ao midas das finanças globais, basta dizer que este senhor, presente à convenção de Garnero, é detentor de um fundo de investimento de US$ 30 bilhões ? o mais exclusivo do mundo ? e dá tacadas certeiras, daquelas que oferecem retorno de até 40% do capital. No seu clube de investimento, o One Billion Dolar Fund, só é permitida a entrada de players com pelo menos ? atente para a cifra! ? US$ 1 bilhão na carteira. Isso mesmo: apenas os bilionários têm direito a participar dos lances do senhor Epstein, que pratica a velha fórmula de embarcar em negócios quando esses estão na bacia das almas ou quando ainda embrionários. A última edição da revista Vanity Fair o coloca na capa relatando seus feitos majestosos e diz que recentemente ele recusou intermediar as aplicações de um estafeta da mídia por este deter ?apenas? US$ 700 milhões para investir. ?Não posso abrir exceções?, foi sua resposta. Epstein mora na mais cara propriedade de Nova York, a ?Great House?, avaliada em US$ 45 milhões e, dizem, administra recursos pessoais de Bill Gates, dos Agnelli e de Warren Buffett. Nunca deu uma entrevista, mas abriu exceção à DINHEIRO, por intermediação dos Garnero. A pergunta inevitável: ?Epstein, onde está bom para lucrar?? . Ele responde de bate-pronto: ?Leste europeu, não há dúvida. Só sobrou o Leste, a China e o Brasil. Nesses dois últimos, é bom esperar?. E a internet? ?Ficou bom depois que todo mundo quebrou a cara?, diz sem rodeios. É isso que faz das carpideiras do capital de risco, como Epstein, ganhadores contumazes. Agora que o investidor da internet agiu como um financiador dopado, perdeu e o circo está armado, gente como Epstein entra na arena arrastando as sobras. Como autênticos gladiadores dos bons negócios!

Um único investidor, Jeffrey Epstein, tinha US$ 30 bilhões para gastar. Estava de olho nos emergentes

Em meio ao grupo do Colonna, acreditava-se que existiam dois tipos de bilionários no mundo. Os vorazes financistas, que se dedicavam a bancos de investimento, fundos de hedge, de arbitragem de câmbio, incorporação imobiliária e outras formas de criação de impérios financeiros ? esses eram os que apostavam, que mergulhavam, que negociavam todo e qualquer risco; em suma, os Rothschild e os Epstein da vida. E também havia os empresários detentores de grandes idéias, grandes projetos, que da mesma forma estavam fazendo fortuna. Existiria ainda, segundo a apreciação da turma do Colonna, os que se dedicavam a bancos comerciais, onde você só empresta o dinheiro, se recosta na cadeira e colhe os juros. Em Colonna, a impressão predominante é que só uma coisa poderia ser considerada mais tediosa, mais segura e menos aventurosa do que trabalhar com um desses bancos-mamutes do crédito comercial: era trabalhar numa firma comercial de linha antiga, do tipo não-tem-erro, feito a American Waters, a Sabesp privada dos americanos. Quem atesta é a própria fundadora da American Waters, Marilyn Ware, que no ano passado decidiu vender a Companhia por US$ 6 bilhões, porque se cansou do negócio. Na Convenção do Brasilinvest, Ware estava a procura de empreitadas ?mais arrojadas?. A sua amizade com Garnero surgiu quase ao acaso. Os dois se encontraram pela primeira vez no seminário de Beaver Creek, nos EUA ? um evento anual organizado por Gerald Ford, que já foi o homem mais poderoso do mundo, e comensais do governo americano entre os convidados. Garnero e Ware voltaram a estar juntos no tradicional ?White House Dinner?, o jantar que o presidente Bush realiza todo final de ano na Casa Branca. Lá, Garnero lhe fez o convite para Roma, aceito de imediato.

Neste ambiente do Colonna, muitas das firmas que lucraram bonito com a subscrição de ações de novas empresas estão a postos para coletar polpudas comissões na assessoria de fusões e aquisições. Os bancos de negócios como o Brasilinvest estão sorrindo à toa. Lá, em apenas uma manhã, ele acertou o lançamento de dois novos fundos de investimento. Um com Nathaniel Rothschild, para operações em países emergentes. ?Garnero deve nos auxiliar com um fundo de hedge no mercado latino?, revelou Rothschild à DINHEIRO. E o outro sairá com o CIC Group, que tem como chairman & CEO o ex-ministro das finanças do Kuwait, Yussef Al-Ibrahim. ?O Brasilinvest e o CIC têm interesses mútuos que podem gerar grandes negócios?, diz Yussef Al-Ibrahim. Dando sentido prático ao acordo, Garnero e Ibrahim irão em busca de novas oportunidades no mercado brasileiro de telefonia e incorporações imobiliárias. Garnero já tem algumas cartas na manga neste campo. Está erguendo um complexo residencial ? incluindo resort e clube de golfe ? em Campinas, interior de São Paulo, numa área de mais de seis milhões de metros quadrados, com expectativa de receitas de US$ 250 milhões nos próximos quatro anos e custo de US$ 68 milhões. Com o grupo Accor Sofitel está concluindo o projeto do Hotel Sofitel Pelourinho (US$ 15 milhões), em Salvador, e o Hotel Serra Azul (US$ 35 milhões), perto dos parques Wet?n Wild e Hopi Hari, interior paulista. Desenvolveu ainda, em associação com grifes como Bulgari, Ferragamo e Prada, o conceito das ?piazzetas italianas?, que serão pequenos shoppings, nos moldes dos ?malls? americanos, com 10 a 15 lojas e investimentos de US$ 20 milhões cada. O plano é abrir 15 desses shoppings ? o primeiro sai este ano ? em cidades americanas para vender exclusivamente marcas de primeira linha, com sobrenomes sonoros.

A caça desses sobrenomes é, aliás, a expertise de Garnero. Com muitos deles poderia se esbarrar nos salões do Colonna e no Palácio Ruspoli que, na noite anterior, abrigou o jantar de gala do Brasilinvest. Um jantar com direito inclusive a presença de membros da família real italiana. O príncipe-consorte Filiberto Emanuele estava lá. Ele e o seu pai, o Rei Vittorio Emanuele III, da Casa Di Savoia, haviam retornado à Itália justamente naquela semana da convenção, depois de décadas de exílio na Suíça. Logo após a II Guerra Mundial, a família real havia sido banida, proibida de morar em território italiano. Por uma concessão do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, há poucas semanas, eles tiveram seu retorno autorizado. Ali em Roma, naqueles dias, Filiberto visitava a Itália pela primeira vez nos seus 30 anos de vida. Seu pai havia saído ainda menino, com tenros seis anos de idade. Os dois se hospedaram no luxuoso hotel Exedra de Boscolo, o mesmo que abrigou dezenas de convidados do Brasilinvest ? situado, ironicamente, na Piazza della República ? e lá tiveram as primeiras tratativas com Garnero. ?É uma emoção pisar na Itália e sinto-me honrado de poder participar deste jantar?, disse Emanuele, o jovem.

Ao levar o príncipe para o jantar dominical no Ruspoli, Mário Garnero estava decidido a acrescentar um pouco mais de grandiosidade à convenção conselheira. Nem precisava. No Ruspoli, você podia levar qualquer pessoa ? mesmo príncipes ou presidentes, como Bush ? e já no saguão de entrada deixá-la impressionada. O impacto do salão de recepções era monumental: a escultura de Pompeu lá na frente, o arco de mármore sobre a entrada, o pé direito de mais de dez metros, as tapeçarias de parede em fios de ouro, os 24 quadros de Raphael, as mesas século XIX talhadas ? de mogno ou talvez nogueira ?, as peças da Companhia das Índias, os castiçais de prata de seis séculos, os vasos Ming, os carpetes gobelins. Tudo no ambiente mostrava-se deliberadamente luxuoso e reluzente. O jantar era um capítulo à parte. As iguarias foram servidas em louças de porcelana com o brazão da família, sob um teto com pinturas de Giácomo Zucchi. Ao pintor, vale uma ressalva: era considerado um dos maiores artistas renascentistas de sua geração. Foi convidado pelo papa a pintar a Capela Sistina, no Vaticano, mas como encontrava-se ocupado com a conclusão do aposento de jantar dos Ruspoli, teve de ser substituído pelo escultor Michelangelo. A comida daquela noite ? de indiscutível riqueza ? foi praticamente aniquilada pelo cenário, servida em meio a colunatas com arandelas de iluminação, espelhos chanfrados e superfícies de mármore polido. Aquilo tudo era ofuscante e ninguém conseguia mesmo prestar atenção ao prato.

Bush pai chegou à propriedade dos Ruspoli meia hora antes do jantar, acompanhado da mulher Barbara. Bem-humorado, brincou com o dono do casarão, Roberto Memmo: ?Quando cheguei, o senhor Memmo me disse: ?sinta-se em casa?. OK, Memmo, Barbara e eu estamos nos mudando para cá amanhã de manhã?. Acrescentou elogios a Garnero: ?Ele é um brasileiro sem igual. Com esses encontros está contribuindo não apenas para o seu país, mas para uma América mais globalizada, com mais oportunidades de negócios?. A senhora Barbara Bush, entrevistada por DINHEIRO, também não economizou afagos: ?O Mário é um grande amigo da família. Não apenas de George, mas de meus filhos e meu também, e tudo que ele faz é maravilhoso?. Garnero não conseguia esconder o entusiasmo pela noite. Com o italiano Roberto Memmo, o maior proprietário de terras de Mônaco, herdeiro dos Ruspoli e do Palácio ? onde divide as dezenas de cômodos com apenas oito familiares ?, foi o anfitrião e também acertou parcerias. Memmo e Garnero firmaram uma joint-venture para abrir uma consultoria de alta tecnologia de construção. A holding dos negócios de Memmo, o Grupo Rhodio, é a segunda maior empresa especializada em fundações do mundo, com faturamento de mais de US$ 2 bilhões e empreendimentos da Tunísia aos EUA. Com Garnero espera encontrar uma porta de entrada nas promissoras encomendas do Iraque e incrementar obras na América Latina.

Presentes ao jantar, jovens como Lapo Elkann Agnelli, neto de Gianni Agnelli e herdeiro do grupo Fiat ? que brevemente estará no manche da organização como ?capo di tutti capi? ? também estão matutando planos para a região. Lappo disse à DINHEIRO que o Brasil continua sendo a maior aposta da Fiat fora da Itália e arriscou-se a revelações: poderá em breve levar ao País a sua marca premium Lancia, com carros top de linha. Ao seu lado, Oleg Deripaska, o russo do alumínio, mostrava-se muito à vontade no papel de bilionário e empreendedor. Deripaska não comunga da religião daqueles que acham que ganhar dinheiro ? no seu caso, muito dinheiro em pouquíssimo tempo ? é pecado. Pelo contrário, gosta de usufruir das vantagens da posição. Recentemente, ergueu uma estação de esqui particular na Sibéria, para onde segue com freqüência. Vai a bordo de um dos seus três aviões Gulf Stream, avaliados em US$ 25 milhões cada, e leva uma entourage de amigos e serviçais nos outros dois. No plano do trabalho, está avançando em novos ramos: energia, por exemplo. Acaba de comprar do governo Putin a Eletropaulo do seu país e já detém 15% do consumo energético russo. Com as carências brasileiras na área, Deripaska não descarta nem uma aventura futura nesse mercado.

Seja no jantar dos Ruspoli ou nas rodadas de negociação no Colonna, na manhã seguinte, o que se pôde verificar in loco é uma radiografia clara da globalização, andando em curso acelerado ? ao menos nas altas esferas. Garnero estima em mais de 200 as oportunidades de negócios abertas naquele ambiente com um grupo que detém cerca de US$ 15 bilhões de patrimônio e quase US$ 100 bilhões em faturamento. Claro, todo mundo ali, não apenas os altos executivos da corporação organizadora, sabia que aquela reunião de ?troca de sinergias? era, como deve se repetir ano a ano, uma mobilização muito bem elaborada com um único fim: gerar negócios, muitas vezes esbarrando em oportunidades até inusitadas.

O Brasilinvest, por exemplo, deve administrar empreitadas inclusive na área médica com a americana Leybold Didactic, especializada em instrumentos de alta precisão cirúrgica e instalações laboratoriais. Com a Fundação Zerbini e o Incor, trazendo o know how da Leybold, acertou a criação de um centro, o Incor-tec, para comercialização de tecnologia pós-operatória no Brasil. Na via contrária, observando oportunidades internacionais, intermediou a fabricante mineira Peeky na exportação de uniformes e botas militares. Fechou um contrato com os EUA às vésperas da guerra no Iraque e, assim, boa parte dos soldados americanos rumou para lá vestindo a grife Peeky, de Divinópolis, que hoje já está faturando perto de US$ 10 milhões.

Façanhas assim exigem especialistas na arte de aproximar interesses. Do lado do time do Brasilinvest, Marcos Troyjo, vice-presidente de operações, com os seus meros 35 anos ? depois de uma fulminante carreira diplomática, curtida nos corredores das Nações Unidas, onde prestou serviços por quatro anos ? está agora seguindo os passos de Mário Garnero. Pilotou empreitadas sofisticadas como a criação de um consórcio agrícola ? envolvendo 21 bolsas de mercadorias brasileiras ? para
financiar o produtor, antecipando crédito por safra através do lançamento de papéis (recebíveis) nos balcões de commodities. O sistema, definido como Commercsys , lançado formalmente em Colonna, foi desenvolvido em parceria com o empresário brasileiro Aramis Maia, megacriador de gado na Austrália, dono da Nacional Transportes Aéreos e de vários empreendimentos em Las Vegas. Marcos Troyjo, logo que chegou ao Brasilinvest, há dois anos, quis saber do chefe qual a fórmula, o ?código secreto? dos grandes lances. Hoje, diz ter a resposta: ?A agenda de telefone do Mário é como uma reserva cambial brasileira, vale ouro?. Como Troyjo, Álvaro e Mário Bernardo, filhos de Garnero e também vice-presidentes, estão perseguindo a fórmula do patriarca. Foram eles que trouxeram para o conselho do Banco nomes como David Tang, o imperador chinês da seda, e o sheik árabe Salman Bin Khalifa Al-Khalifa ? este preocupadíssimo com os rumos que o petróleo iria tomar após a crise do Oriente Médio. Para sujeitos dessa estirpe, o Palácio Colonna ? erguido no século XIV e que já serviu de residência do papa Matinho V ? foi um oásis. Na mesa quadrada do salão onde se desenvolveram as principais conversas, eles estavam entre os privilegiados que conseguiram um lugar sentado nas 36 poltronas, grandes e douradas feito trono ? forradas por um veludo vermelho e estofadas com o mais fino couro e lã que se possa imaginar ?, para ouvir, discutir, negociar e quem sabe sair de lá com alguns milhões de dólares a mais no bolso.