Os americanos estão cada vez mais incertos sobre os reais motivos que animam o presidente George W. Bush a fazer a guerra contra Saddam Hussein. A aprovação a um ataque militar maciço sobre o Iraque caiu, aqui, de 62% para 55% entre o início e o final do mês passado, segundo o centro de pesquisas Pew. Os números refletem dúvidas que crescem na mesma proporção do tom das ameaças do presidente americano contra seu inimigo iraquiano. A alegação oficial de que o motivo é a erradicação de um arsenal secreto de armas de destruição em massa está sendo minada diante dos notórios interesses comerciais do país sobre o petróleo iraquiano. Dono da maior reserva petrolífera do planeta, o Iraque não tem contratos de exploração com empresas americanas. Ao contrário, seus acordos são com companhias da França, da China e da Rússia, exatamente os países mais resistentes aos planos de Bush. No mesmo rol de dúvidas sobre a razão da guerra estão as ligações do atual governo americano com Israel, que julga o Iraque como um centro de sustentação financeira dos palestinos e sua intifada à razão de US$ 15 milhões nos últimos tempos. Em apenas dois anos de mandato, a anunciada ação contra Saddam será a segunda guerra na qual Bush lança seu país. A primeira, contra o Afeganistão controlado pelo Talibã e esconderijo de Bin Laden e os terroristas do Al Qaeda, foi facilmente compreendida pela sociedade, dado às evidências sobre quem destruiu as torres gêmeas, alvejou o Pentágono e matou cidadãos inocentes. Agora, a nitidez do passado recente está turva.

 

Apesar da divisão entre os americanos, não há sinais no horizonte de curto prazo de que Bush reverta seu atual discurso belicista. ?Se a ação militar se tornar necessária para nossa própria segurança, acionarei todo o poder e a força do exército dos EUA e venceremos?, disse o presidente em Washington na segunda-feira 11, diante de ex-combatentes reunidos no Dia dos Veterenos nos jardins da Casa Branca. Na sexta 8, em resposta a esforços diplomáticos americanos incessantes nos últimos dois meses, a ONU finalmente aprovou resolução para que o Iraque aceite receber uma completa inspeção internacional em seu arsenais sob pena de sofrer ?sérias conseqüências?.

O parlamento do Iraque rejeitou a resolução 1.441 das Nações Unidas na segunda 11. ?É provocativa, indecente e um preâmbulo para a guerra?, declarou o presidente da instituição, Saadun Hamadi. ?Não é mais que um pretexto bélico, e não uma solução global.? Mas o embaixador do Iraque na ONU, Mohamed Al-Douri, anunciou no dia seguinte que seu país aceita receber os inspetores. Como numa partida de xadrez, no qual mal se sabe até quando vale a palavra empenhada pelos homens de Saddam, Bush está outra vez com o direito de fazer seu movimento. Entre os conselhos de seus assessores de confiança, que querem a guerra, e a opinião pública que se movimenta na direção contrária, Bush está a um gesto de mostrar ao mundo de qual lado vai ficar.