El Salvador opera a partir desta terça-feira (7) com o bitcoin como moeda corrente, assim como o dólar, um plano polêmico promovido pelo presidente Nayib Bukele, que registra alto índice de popularidade, para reativar a economia, mas que começou com a queda do sistema devido à alta demanda.

O experimento, que gera dúvidas entre a população e desconfiança de especialistas, é seguido de perto nas redes sociais por apoiadores e críticos, que usam as hashtags “#bitcoinday” e “#noalbitcoin”.

El Salvador adota bitcoin como moeda oficial. Por que isso pode dar errado?

O sistema apresentou problemas na largada. “Por alguns momentos não funcionará @chivowallet, desconectamos enquanto aumentamos a capacidade dos servidores de captação de imagens”, escreveu Bukele no Twitter.

“Os problemas de instalação de algumas pessoas aconteceram por esta razão. Preferimos corrigir antes de voltar a conectar”, explicou

O governo já comprou as primeiras 400 moedas, a um valor de mercado de 21 milhões de dólares.

Além disso, a administração lançou o sistema eletrônico Chivo para telefones celulares e concedeu aos salvadorenhos um valor equivalente a 30 dólares em bitcoins para que comecem a operar.

O governo instalou 200 caixas eletrônicos Chivo no país para operar com bitcoins e dólares.

Na linguagem coloquial salvadorenha, “chivo” é algo muito bom. Mas os críticos usam “#NoesChivo” porque afirmam que expõem os fundos estatais a um ativo volátil.

Quando foi criado em 2009 o bitcoin valia centavos de dólar. Atualmente o preço supera 52.000 dólares. Mas nos últimos 12 meses alcançou chegou a US$ 62.000 ou caiu a 35.000, dependendo de comentários de investidores como Elon Musk e anúncios de regulamentações chinesas.

Pelo mesmo motivo, economistas e organismos como o Banco Mundial, o FMI e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) expressam ceticismo sobre a medida.

“Um dos primeiros riscos que advertimos é que os custos da experiência são pagos pela população”, advertiu o economista Ricardo Castañeda, do Instituto Centro-Americano de Estudos Fiscais.

O governo de Bukele garante que a polêmica medida contribuirá para a bancarização da população e evitará uma perda de 400 milhões de dólares nas remessas que os salvadorenhos enviam do exterior e que representam 22% do PIB, embora alguns especialistas questionem a afirmação.

Em El Salvador, que dolarizou sua economia há duas décadas, a maioria dos 6,5 milhões de salvadorenhos rejeita o bitcoin promovido por Bukele e prefere continuar usando o dólar, segundo as últimas pesquisas.

Sete em cada 10 salvadorenhos indicaram que “discordam ou discordam veementemente” do bitcoin, que circulará ao lado do dólar, apontou uma pesquisa recente da Universidade Centro-Americana (UCA), que consultou 1.281 pessoas em meados de agosto.

Dos mais de 1.500 consultados em outra pesquisa do jornal La Prensa Gráfica, 65,7% disseram que desaprovam a criptomoeda.

A diretora do Instituto de Opinião Pública da UCA, Laura Andrade, garante que a população resiste ao bitcoin por não considerá-lo uma forma de melhorar sua situação econômica.

A Assembleia Legislativa aprovou a lei do bitcoin em junho, e no fim de agosto endossou um fundo de 150 milhões de dólares para garantir a “conversibilidade automática” do bitcoin ao dólar. A lei estabelece que o câmbio entre o bitcoin e o dólar “será livremente estabelecido pelo mercado” e obriga “a aceitar o bitcoin como forma de pagamento”.

O fato de sua cotação ser determinada “exclusivamente pelo mercado” torna o bitcoin “altamente volátil”, alertou a Fundação Salvadorenha para o Desenvolvimento Econômico e Social (Fusades).

A Fundação também considera “inconstitucional” impor “a aceitação obrigatória do bitcoin como forma de pagamento quando oferecido” em qualquer transação econômica.

Incentivado por uma alta aprovação pública, mas criticado por várias medidas consideradas autoritárias e que afetam a independência entre os poderes do Estado, Bukele defende sua decisão e acusou a oposição de “assustar” a população sobre a criptomoeda.