PARA QUALQUER INVESTIDOR, JAMAIS faltarão razões para ler sobre Warren Buffett. Ele é, afinal, o maior de todos no mundo das aplicações financeiras. Sovina notório, não costuma desperdiçar nem palavras. Mas se você ainda precisa de pretexto para conhecê-lo melhor, aí vão dois. Primeiro: quem, em sã consciência, injetaria US$ 8 bilhões na Bolsa americana em meio a um vendaval que ameaçava devastar Wall Street? Pois Buffett o fez, em duas tacadas, investindo US$ 5 bilhões no banco Goldman Sachs e o restante em ações da GE. Segundo: há uma nova biografia sobre o homem na praça. É a única, até hoje, autorizada por ele – o que não quer dizer que seja a melhor. Mas a qualidade nem sempre importa nesses casos. Em tudo o que se lê sobre Buffett há lições de investimento, até mesmo nas cartas anuais que edita, endereçadas aos acionistas da sua companhia, a Berkshire Hathaway.

QUASE AVARENTO, ELE SÓ DISTRIBUIU DIVIDENDOS DE SUA COMPANHIA UMA VEZ. FORAM 10 CENTAVOS POR AÇÃO

Com mais de 800 páginas, a biografia recém-lançada é um detalhado relato da vida e da obra do investidor que, pelo menos até o início da atual crise financeira, era o homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 62 bilhões. Já no título – The Snowball (A Bola de Neve) – encontra-se aquele que, na atual conjuntura, talvez seja o principal legado que Buffett procura deixar aos que se aventuram no mercado de ações. A autora Alice Schroeder – uma ex-analista de ações que passou cinco anos dedicada à obra – explica que está na rigorosa, quase monástica, obediência ao conceito da bola de neve a receita de tamanha prosperidade. Funciona da seguinte forma: você investe seu dinheiro numa companhia, o investimento rende mais dinheiro, que você acrescenta ao seu investimento, rendendo ainda mais. Cada vez que você retira uma parte do bolo, está negando a si mesmo muito mais do que aquilo em ganhos futuros. Quer um exemplo? Buffett afirma que fez um dos piores negócios de sua vida quando retirou de sua bola de neve acionária US$ 2 mil, nos anos 50, para comprar um posto de gasolina. Segundo ele, se o dinheiro continuasse lá, girando na avalanche positiva de seus investimentos, valeria hoje nada menos que US$ 6 bilhões.

A bola de neve é um conceito simples, quase avarento. Buffett o pratica com determinação na Berkshire Hathaway, a ponto de, em décadas de existência, a companhia ter distribuído dividendos aos acionistas apenas uma única vez, em 1967. Foram míseros 10 centavos por ação, mas Buffett considera esse um de seus grandes momentos de fraqueza. Naquele momento, saíram do cofre da empresa US$ 101,7 mil e nem o próprio mago de Omaha (cidade natal de Buffett) ousa calcular quanto, por sua lógica, eles somariam hoje à sua fortuna e de seus acionistas. Estes, mas do que ninguém, sabem como Buffett é e o seguem como a um profeta. Pagam caro pelas ações da Berkshire Hathaway porque confiam que ali não há espaço para loucuras e sonhos de riqueza instantânea. Olham para longe, muito além das crises e dos momentos de euforia. Eles só querem estar no meio da bola de neve.