Os gastos do consórcio BRT Rio voltados para a recuperação de estações do corredor Transoeste afetadas por atos de vandalismo são de aproximadamente R$ 800 mil por mês. Com o prejuízo, o modal pode interromper as operações na Avenida Cesário de Melo, via onde se registra o maior número de ocorrências e que liga os bairros de Campo Grande e Santa Cruz. O consórcio cogita deixar de atender 22 estações. A decisão pode impactar cerca de 30 mil passageiros.

De acordo com a diretora de relações institucionais do BRT Rio, Suzy Balloussier, com exceção de duas estações que estão fechadas, a operação no trecho vinha sendo mantida mesmo com o vandalismo recorrente. No entanto, outro problema se somou ao cenário: as empresas em crise não estão conseguindo entregar integralmente a frota.

A Transoeste liga a zona oeste do Rio de Janeiro à Barra da Tijuca. O consórcio BRT Rio é responsável pela operacionalização do corredor. Ele planeja as viagens conforme a demanda ao longo do dia. Para tanto, precisa receber os ônibus e a mão de obra – sobretudo motoristas – das empresas contratadas pelo Poder Público. No caso da Transoeste, são 11 empresas.

“Elas não estão conseguindo fazer os pagamentos. Por exemplo, não pagam os fornecedores de óleo diesel. E aí não tem combustível para todos os ônibus da frota. Também estão com problemas para manter a mão de obra. E o resultado é que estamos com a corda esticadíssima. Se entregarem menos ônibus do que já estão entregando, a operação fica inviável”, diz Suzy Balloussier.

A diretora de relações institucionais do BRT Rio avalia que é questão de dias ou de semanas para que a frota se torne insuficiente para atender a demanda. “Não é uma decisão administrativa. É uma contingência operacional. A opção será deixar de operar na Avenida Cesário de Melo, porque lá temos o maior prejuízo com vandalismo e a menor arrecadação, por conta da evasão. São muitas pessoas que não pagam a passagem e dão calote.”

Mira de fuzis

O vandalismo no corredor Transoeste já foi tema de diversos ofícios enviados pelo consórcio à Secretaria Municipal de Transportes (SMTR). O BRT Rio pede algumas providências: policiamento intensivo para coibir o vandalismo e a evasão, fiscalização pela própria SMTR sobre vans que circulam transportando passageiros ilegalmente e atuação da Guarda Municipal sobre o comércio clandestino.

Suzy Balloussier avalia que, embora o BRT seja uma parceria público-privado, o Poder Público não tem feito sua parte. “Não estamos pedindo dinheiro para a prefeitura. Estamos pedindo que os órgãos públicos atuem naquele eixo, para podermos continuar operando. A coisa é séria. Não é qualquer vandalismo. É tiro, incêndio, quebra de portas, pedradas de fora para dentro. É caso de segurança pública.”

Ela dá o exemplo da Estação Vila Paciência, uma das duas que já estão fechadas. A estrutura foi incendiada em 2015 e reconstruída. “Nós colocamos nossos funcionários lá para trabalhar. No primeiro dia, foram expulsos por elementos armados com fuzis. A estação foi novamente depredada, tiraram monitores, câmaras, vidros, borrachões, instalações elétricas. Voltamos mais uma vez com operários e dessa vez não foi possível nem terminar a obra. Eles foram colocados para fora também sob a mira de fuzis.”

Segundo a SMTR, as solicitações do consórcio já foram respondidas e a maioria das reivindicações refere-se a questões de segurança pública, afeitas a outros órgãos. Em nota, a pasta afirma que o BRT Rio tem obrigação de “manter os serviços operando de forma regular e satisfatória e que as reclamações referentes à segurança pública, que não são da alçada da SMTR, foram encaminhadas aos órgãos competentes”. O texto registra ainda que, em caso de paralisação do sistema BRT, os consórcios responsáveis sofrerão as penalidades administrativas previstas. Por sua vez, a Polícia Militar informou que atua no entorno de todas as estações e age imediatamente sempre que acionada.

O sistema BRT é um dos principais legados da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no Rio. Concebido como solução de mobilidade para os eventos esportivos, ele é formado por ônibus articulados que transitam em três corredores: Transoeste, Transolímpica e Transcarioca. Diariamente, o modal transporta em média 380 mil passageiros. Para sua implementação, várias linhas de ônibus deixaram de existir ou se tornaram apenas alimentadoras, fazendo com que muitas pessoas dependam do BRT para se deslocar.