Os chefes de Estado dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) exortaram nesta quinta-feira (14), em Brasília, que se supere os “desafios significativos” enfrentados pelo multilateralismo e se evite medidas “protecionistas” em referências implícitas à política comercial do presidente americano, Donald Trump.

“Continuamos comprometidos com a preservação e o fortalecimento do sistema comercial multilateral, com a Organização Mundial do Comércio em seu centro. É essencial que todos os membros da OMC evitem medidas unilaterais e protecionistas”, destacou a declaração final do bloco, que se reúne em plena guerra comercial entre Estados Unidos e China.

Na manhã de quinta-feira, o presidente chinês Xi Jinping enfatizou a necessidade de combater o “protecionismo” e o “unilateralismo”, aludindo a aumentos nas tarifas impostas nos últimos meses por Trump a produtos chineses.

Os Brics são “a favor dos mercados abertos, contra o protecionismo e desempenham um papel estabilizador”, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, em coletiva de imprensa. “À medida que a situação mude no mundo, o papel e a importância dos Brics vão ganhar força, sem dúvidas”, acrescentou.

Os mandatários, reunidos em Brasília, defenderam uma reforma do sistema multilateral, com instituições como ONU, OMC e FMI mais inclusivas e se comprometeram, entre outros, a implementar o Acordo de Paris.

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, destacou que “o avanço econômico e social dos Brics”, depende de um apoio sustentado de seus países à “emancipação das mulheres em todos os âmbitos da sociedade”.

– Nada a dizer sobre a Venezuela –

A declaração final não cita a situação da Venezuela – um assunto de divide os integrantes dos Brics.

Pequim e Moscou apoiam o presidente Nicolás Maduro, enquanto o Brasil está, com os Estados Unidos, entre os 50 países que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó presidente interino do país.

Na quarta, no primeiro dia de reunião do Brics, partidários de Guaidó ocuparam por cerca de 14 horas parte da embaixada da Venezuela em Brasília, que está nas mãos do governo de Maduro.

No final da tarde, após negociações com um delegado do Ministério das Relações Exteriores, os apoiadores de Guaidó deixaram a legação pela porta dos fundos.

Uma situação embaraçosa para Bolsonaro, que apesar de reconhecer Guaidó não expulsou a representação diplomática de Maduro.

Outro assunto ignorado foi a situação da Bolívia, após a renúncia do presidente de esquerda Evo Morales.

O governo russo reconheceu Jeanine Áñez como presidente interina até que um novo presidente seja eleito, embora não considere a saída de Morales do poder como um “processo legítimo”.

– Bolsonaro, um novo pragmatismo –

Na cúpula de Brasília, Bolsonaro revelou um certo pragmatismo, ao se recusar a tomar partido na guerra comercial entre a China, seu maior parceiro comercial, e os Estados Unidos de Donald Trump, o principal aliado internacional do presidente de ultra-direita.

Na quarta-feira, disse que a China é cada vez mais parte do futuro do Brasil e prometeu aumentar e diversificar as relações comerciais com Pequim.

E até o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que os dois governos estão falando sobre a possibilidade de uma área de livre-comércio.

Durante a campanha eleitoral do ano passado, Bolsonaro acusou a China de querer comprar o Brasil, o que lhe valeu uma pressão dos setores de agronegócio e mineração, que precisam manter um bom relacionamento com Pequim.

– A batalha pelo 5G –

Xi previu “um futuro promissor” para as relações comerciais entre China e Brasil.

Mas esta lua de mel terá seu teste mais difícil no ano que vem, com a seleção crucial da operadora de rede 5G no Brasil.

Se o Brasil escolher a empresa Huawei, será uma afronta ao governo Trump, que está em campanha mundial com seus aliados para impedir que o gigante chinês participe da implementação dessa tecnologia móvel de alta velocidade.