Funcionários de alto nível da União Europeia (UE) e do Reino Unido terão uma reunião urgente, na próxima semana, para tratar do Acordo de Retirada britânica do bloco.

Nesta terça-feira (22), em meio a tensões e incertezas, o ministro alemão para Assuntos Europeus, Michael Roth, lembrou a seus colegas de Londres que não é hora para “jogos”.

“Por favor, queridos amigos em Londres: parem de jogar. O tempo está-se esgotando. Nós realmente precisamos de uma base justa para as próximas negociações e estamos prontos para isso”, disse Michael Roth, em Bruxelas.

O problemático divórcio entre Reino Unido e UE entrou em clara rota de colisão depois que Londres promoveu uma lei sobre o mercado interno, modificando, unilateralmente, aspectos negociados e já aprovados no Acordo de Retirada.

Na opinião de Roth, “a chamada lei do mercado interno é extremamente grave para nós, porque viola os princípios básicos do Acordo de Retirada, e isso é totalmente inaceitável”.

Desde que Londres promoveu a polêmica lei, a UE estabeleceu o final de setembro como prazo para as autoridades britânicas retirarem a legislação, por violação aberta do Acordo de Retirada, principalmente as medidas relacionadas à Irlanda.

O principal negociador da UE, o francês Michel Barnier, estará em Londres na segunda-feira para negociações com seu homólogo David Frost, em mais uma tentativa de encontrar um possível caminho para um entendimento.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, já havia garantido que seu governo simplesmente abandonaria as negociações sobre as futuras relações comerciais com a UE se não houvesse nenhum progresso evidente até meados de outubro.

De acordo com o ministro irlandês das Relações Exteriores, Simon Coveney, o clima geral na última reunião de chanceleres da UE, realizada na segunda-feira em Bruxelas, era de pessimismo.

“O mais preocupante nos últimos dias, conversando com outros ministros da UE, é que existe uma sensação crescente de que talvez o Reino Unido não queira um acordo. E é apenas uma questão de administrar a culpa caso as negociações afundem”, disse ele.

– Sem renegociação –

O vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, anunciou que se reúne na próxima segunda, em Bruxelas, com o ministro britânico Michel Gove.

Sefcovic destacou, porém, que “não iremos renegociar” o Acordo e, em vez disso, “estamos nos dedicando à sua implementação plena e oportuna. Nada mais e nada menos do que isso”.

Por seu lado, o secretário francês para os Assuntos Europeus, Clément Beaune, expressou sua confiança em que ainda há alguma esperança de negociar um entendimento comercial com o Reino Unido, mas destacou que a Europa não assumirá compromissos em relação ao Acordo.

“Não vamos ratificar um acordo sobre a futura relação se ainda houver cicatrizes de punhaladas do capítulo anterior”, afirmou.

Beaune lembrou que, tanto para a UE quanto para Dublin, é fundamental evitar a instalação de uma fronteira física na Irlanda.

Desde o Brexit, ambas as partes têm dedicado grandes esforços para negociar as características de seu relacionamento futuro, embora a nova crise ameace arruinar essas tentativas de entendimento.

O Reino Unido se retirou da União Europeia em 31 de janeiro deste ano e deve deixar a união aduaneira e o mercado comum até o final de 2020. Ainda existem, porém, negociações sobre o ambiente de concorrência leal entre empresas, auxílios e subsídios estatais e acesso dos navios de pesca europeus às águas britânicas.