Não é segredo para ninguém que o Brexit é o maior desastre político britânico do século 21. Quase dois anos após o referendo que decidiu pela saída da União Europeia, o parlamento britânico ainda não conseguiu aprovar um plano de retirada. Na terça-feira 12, a quase quinze dias do prazo limite para a separação, 29 de março. a proposta da primeira-ministra Theresa May foi novamente derrotada em votação.

É este o plano que vai determinar como ficarão empresas, negócios e cidadãos que lidam com os dois lados, Reino Unido e UE. Caso não seja aprovado pela maioria de 650 parlamentares, o Brexit acontece sem acordo (no deal). Todos os laços comerciais e alfandegários serão abruptamente cortados. Vai ser caótico. As perdas devem afetar principalmente o lado britânico da balança.

O principal ponto de discordância entre apoiadores do Brexit e May é que o acordo apresentado por ela e elaborado juntamente com a UE deixaria o Reino Unido submetido às regras da área de livre comércio do bloco. O impasse começou em janeiro, quando a primeira-ministra foi derrotada por 432 votos contra, e 202 a favor. Após peregrinar por países da Europa em busca de apoio para fazer a transição, ela trouxe uma nova proposta sem muitas mudanças para votação e apostou no curto prazo para conseguir apoio entre os parlamentares.

Não foi o que aconteceu. A proposta foi derrotada por 391 votos contra, e 242 a favor, em um sinal pífio de melhora de cenário. Em seguida, May perdeu totalmente o controle sobre membros do Parlamento, que decidiram, contra sua vontade, votar uma emenda que impede a saída da UE sem um acordo. A emenda foi aprovada, somando mais uma derrota à premier.

Tanta confusão, no entanto, não significa muita coisa. Para uma emenda desse tipo ter validade, todos os 27 membros da União Europeia teriam que aceitar a mudança. O bloco já sinalizou que somente os textos apresentados pela primeira-ministra têm seu aval. Alguns legisladores britânicos já começaram a reconhecer que a única opção viável seria, de fato, um projeto que viesse de May. E mais uma vez, nas próximas semanas, tudo indica que ela irá testar o sucesso do seu plano no Parlamento.

“Mesmo que os parlamentares votem pelo adiamento da data limite, a proposta dela é a única opção concreta à saída sem acordo”, diz Catherine Barnard, cientista política da Universidade Cambridge. “Esperava-se que já tivessem chegado a essa conclusão, mas os parlamentares ainda parecem achar que podem criar opções em cima da hora.”