A utilização de “empresas de papel” em paraísos fiscais foi uma prática usada para pagamentos de propina em operações bilionárias que envolviam a Odebrecht e sua petroquímica Braskem. Foi o que se viu em 2010, quando a Braskem comprou o controle da Quattor e se consolidou como a maior companhia do setor.

Para concretizar o negócio, foi necessário criar uma fundação internacional, por onde seria realizado o pagamento ilegal de US$ 100 milhões para o principal acionista da Quattor, o empresário Frank Geyer Abubakir. A operação foi feita sem o conhecimento dos demais acionistas da Quattor, entre eles a própria Petrobras, também sócia da Odebrecht na Braskem.

O ex-diretor da Odebrecht Luiz Eduardo da Rocha Soares chega a elogiar a artimanha financeira criada para fazer a propina chegar a Geyer, ex-presidente Unipar (que detinha 60% da Quattor), cuja família ganhou fama pelas disputas internas e pelas milhares de obras de arte que mantinha na Casa Geyer, no Rio de Janeiro, acervo que foi doado ao Museu de Petrópolis.

“Tínhamos que formatar um pagamento de US$ 100 milhões de uma forma que não fosse, que não aparecesse, para que não tivesse problemas com acionistas minoritários (da Unipar) e com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Então, formatamos um pagamento onde nós construímos uma fundação em Andorra.”

A engenharia criminosa se deu por meio da criação de uma fundação no Panamá, um paraíso fiscal. O dinheiro dava voltas para dificultar a identificação de seu dono. A operação era feita por meio da Banca Privada de Andorra (BPA), que transferia recursos para a fundação BPA Serveis e encaminhava os recursos para a Gestar Financial Services, empresa localizada em Lausanne, da Suíça, administrada pelo Banco Espírito Santo, de Portugal.

“Não tinha origem e destino de quem mandava o dinheiro e de quem recebia o dinheiro. Era uma transferência de título”, disse Rocha Soares. O pagamento da propina para Geyer foi confirmado por Marcelo Odebrecht em sua delação. “Houve um pagamento a ele feito por fora. Viabilizou a venda da Quattor para a Braskem”, disse Marcelo.

Por meio de nota, a Braskem informou que assinou, em dezembro de 2016, “um acordo global de leniência que inclui todos os temas relativos às práticas impróprias no âmbito da Operação Lava Jato, pelo qual está pagando mais de R$ 3 bilhões em multas”. A empresa declarou que “continua cooperando com as autoridades”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.