Produto similar às notas estruturadas, populares nos Estados Unidos e na Europa, o Certificado de Operações Estruturadas (COE) ganhou no Brasil a pecha de ser um produto caro por causa dos custos que embute. Trata-se de um ativo estruturado com base em cenários selecionados conforme o perfil do investidor: combina características de renda fixa e variável, podendo ser atrelado a câmbio, inflação, ações e ativos internacionais. “Você tem uma fórmula que diz o que ganhará”, explica Benjamin Kieffer, diretor do BNP Paribas, banco que é um dos principais emissores globais desses ativos.

O executivo francês, que hoje trabalha na criação de um investimento com desempenho atrelado a empresas de capital fechado no Vale do Silício, destaca que os custos dos COEs vêm da própria confecção do produto. “Há mais custos do que apenas comprar uma ação. Usamos derivativos complexos.” Leia os principais trechos da entrevista.

O brasileiro está mais interessado em investir lá fora?

Os investidores tentam aplicar globalmente para ter novas fontes de retorno e de diversificação. No Brasil, há investidores tentando ampliar o escopo de seus investimentos. Nossa colaboração com a Forge, especializada em acesso a companhias privadas do setor de tecnologia, é para permitir que nossos clientes cheguem a um novo mercado. Ele é fácil de acessar se você mora em São Francisco e tem conexões com o Vale do Silício. Mas, se você não mora nos Estados Unidos, é mais difícil. Muitas companhias não abrem mais o capital.

Por que elas preferem continuar privadas?

Primeiro porque hoje há muito capital que pode ser levantado sem ir a público. Segundo, por causa da regulação. Em vários países, a legislação permitiu que empresas tivessem mais acionistas sem serem públicas. E alguns fundadores sentem que a necessidade constante de lucrar pode não estar alinhada à estratégia de crescimento, que o momento de lucrar pode ter de esperar. Em 2018, houve três vezes mais dólares levantados nos EUA em operações privadas do que com IPOs (aberturas de capital). Quando falamos dos unicórnios (companhias de mais de US$ 1 bilhão) no mercado fechado, elas somam US$ 1,2 trilhão.

Como o investidor pode acessar essas empresas?

Há o investidor sofisticado, que conhece as companhias e pode investir diretamente nelas. Estamos construindo um produto que daria acesso a uma cesta com essas companhias de maneira diversificada, a qualquer investidor.

O tamanho do mercado de derivativos daqui ajuda?

O que é importante para fabricar o produto é a liquidez. É verdade que o mercado futuro de ações é mais líquido aqui e isso ajuda. Pelo fato de criarmos produtos personalizados, às vezes o que precisamos transacionar não existe. Era difícil negociar, por exemplo, opções de longo prazo no Brasil. Como há demanda, um banco começa a tomar risco para ajudar o cliente e outros seguem, criando liquidez. Estivemos nessa liderança. Já criamos produtos difíceis de proteger, tomamos algum risco para depois ir ao mercado para compensá-lo.

Como o COE compete com opções mais baratas?

Não diria que tem taxas mais altas, mas a estrutura é diferente. Se você pegar um fundo, terá de pagar taxa de administração. Para criar esse produto, juntamos algumas peças e na fórmula em si não há taxas. No modelo das corretoras, elas ganham comissões. Diria que talvez haja mais custos para criar o produto, porque usamos derivativos complexos. Então há mais custos do que apenas comprar uma ação. Mas você ganha o que vê no início do investimento.

Há perspectiva de baixar os custos?

Quanto mais líquido for o mercado em que o produto está baseado, menor será o custo. Fabricantes de produtos financeiros, como o BNP, têm de ter cuidado para escolher as peças mais eficientes e compatíveis. Nosso trabalho é entregar ao investidor o que ele procura. O investidor ou distribuidor pode escolher as condições que preferir. Por exemplo, mais e mais investidores querem ter um investimento com responsabilidade social. Tipicamente pode haver menos liquidez em índices desse tipo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.