Pesquisa DataFolha divulgada na quarta-feira 5 mostra que o brasileiro precisa mesmo ser estudado pela NASA, como diz um famoso meme do Twitter. Entre os entrevistados pelo instituto, 67% defendem que as leis de incentivo e subsídio à cultura – como a famosa Lei Rouanet – precisam ser mantidas. No entanto, 45% querem que o presidente Jair Bolsonaro aprove pessoalmente os projetos inscritos. Curiosamente, entre os que defendem “curadoria presidencial” dos projetos culturais, 57% consideram que as críticas de Bolsonaro à Ancine e ao cinema nacional são um ato de censura. É um claro sintoma de esquizofrenia política, mas vamos em frente.

As Leis de Incentivo à Cultura deveriam ser uma política de estado e não de governo. Mais do que isso, precisam fazer parte de uma estratégia de “economia criativa”, que compreende do artesanato à superprodução cinematográfica e que vai ganhar cada vez mais relevância na economia do terceiro milênio. Até países com indústria cultural sólida, como Estados Unidos, Reino Unido e França, têm leis de incentivo à criação. E lá não passa pela cabeça de ninguém que o presidente deva aprovar pessoalmente os projetos.

Em junho, Jair Bolsonaro citou o filme “Bruna Surfistinha” como exemplo de obra não deveria ser financiada pelo estado. Vale lembrar que durante a ditadura militar (1964-1985), da qual o presidente é fã, a grande produção cinematográfica brasileira era de comédias eróticas de costumes, gênero apelidado de “pornochanchada”. E nem nos períodos mais truculentos da ditadura, um presidente decidiu agir como crítico de cinema e palpitar sobre o que deveria ou não deveria ser feito.