O Brasil viveu anos piores do que 2019 em relação a incêndios florestais e queimadas, mas, desde 2004, quando começou a medir em tempo real o desmatamento, não havia registrado tanto fogo em um ano de seca moderada, segundo especialistas.

O sistema de detecção do desmatamento em tempo real (Deter) foi lançado em 2004, após altos índices de picos de destruição de matas, para atuar com mais rapidez e precisão no controle de um fenômeno que na região amazônica é causado pela mão do homem para abrir pastos para o gado, de acordo com especialistas.

Entre janeiro e 29 de agosto, os dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) foram responsáveis por 87.257 pontos de incêndio, 51,9% deles na floresta tropical. O número é atualizado diariamente e o Brasil ainda tem pelo menos um mês e meio de seca pela frente.

A série histórica do Inpe mostra que, desde 2004, os incêndios naquele período foram apenas mais numerosos em 2005, 2006, 2007 e 2010, períodos com secas muito mais severas que as deste ano, explica o pesquisador do Instituto Sócio-Ambiental (ISA) Rodrigo Junqueira.

“Quando ocorrem eventos climáticos como o El Niño, há uma maior propensão para incêndios porque o ambiente está muito seco”, afirma.

Especialistas dizem que a estação seca deste ano é mais úmida do que nos anos anteriores e lembram que não há incêndios por causas naturais na Amazônia.

“A incidência de fogo na região amazônica está diretamente relacionada à ação humana e as chamas costumam seguir o rastro do desmatamento: quanto mais se desmata, maior o número de fontes de calor”, afirmou o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que também divulgou um estudo mostrando que os municípios que concentram os maiores incêndios são aqueles em que houve maior desmatamento.

Antônio Oviedo, do ISA, crê que pela primeira vez a Amazônia brasileira concentra mais da metade dos incêndios desde el início da estação seca no meio de julho.

Entre 20 de julho e 20 de agosto, 65,1% do número total de incêndios ocorreu no bioma amazônico. “A Amazônia nunca havia concentrado tanto fogo no Brasil”, disse Oviedo.

O pesquisador disse que o pior ano para a Amazônia naquele período havia sido 2005, com 46% do total de incêndios.